17 de fevereiro de 2012

86 - ALEX entrevista TOMTOM

Ele nasceu em Pedro Leopoldo, Minas Gerais.
Ele está com quase meio século de vida.
É casado e pai de três filhos.
É formado em Educação Física e Psicologia.
É trabalhador do Grupo Espírita Scheilla há exatamente 31 anos.
Participa das atividades na Casa de Chico Xavier em Pedro Leopoldo.
Também participa da Fundação Cultural Chico Xavier.
E por fim,  da Aliança Municipal Espírita de Pedro Leopoldo e Matozinhos.
Desde 1981 participa do Movimento de Unificação em sua cidade.
Seu nome é Jhon Harley Madureira Marques, o nosso "Tomtom".

Jhon Harley "Tomtom"
ALEX - Olá Tomtom, que prazer em entrevistá-lo. Quem é o Jhon Harley particularmente?

TOMTOM - Tenho 49 anos, sou casado com Renata Lúcia de Andre Pinto Marques há 25 anos e sou pai de três filhos: Gabriel, Guilherme e Gustavo. 

ALEX - Conte um pouco sobre o seu convívio com Chico. Foram 21 anos de relacionamento?

TOMTOM - Tive o prazer de conhecer Francisco Cândido Xavier em 1981, na casa de sua irmã Cidália Xavier de Carvalho. Confesso que neste dia fiquei, sob certa hipnose, olhando fixamente para o tão falado Chico Xavier. Encontro, reencontro, não sei... Mas a partir daí mantivemos um relacionamento de respeito e amizade que só foi interrompido mediante sua desencarnação, no dia 30 de junho de 2002.

   Em todos estes anos de convivência, pude confirmar o que muitas pessoas já diziam ser ele um ser humano profundamente generoso, de hábitos simples, vivendo de sua modesta aposentadoria. Um típico mineiro que adorava uma boa prosa e ficava profundamente constrangido com elogios.

ALEX - Foi essa amizade que o levou a enveredar pelo espiritismo?

TOMTOM - Nasci na cidade de Pedro Leopoldo e minha formação religiosa, como muitos da minha geração, foi estruturada nos princípios do cristianismo, sob a interpretação do movimento católico. Na adolescência, por alguns anos, cheguei também a participar do movimento umbandista.

   Desde cedo, me sentia atraído em procurar entender um pouco mais sobre a religiosidade do nosso país, pois sempre considerei uma forma de expressão cultural importante e significativa, mas que, historicamente, somente há bem pouco tempo, vem despertando o interesse de pesquisadores e estudiosos.

   Por volta dos 17 anos de idade, em diversas ocasiões, tive sonhos curiosos onde Chico Xavier era o protagonista. Ouvindo falar muito em Chico Xavier, comecei alimentar um insistente desejo de conhecê-lo. Passei a sonhar que ele, sorridente, me olhava atentamente. Corria para encontrá-lo, mas quando chegava próximo ele já se encontrava em outro lugar. Estes sonhos persistiram por um bom tempo e deixaram significativas impressões.

   Evidentemente, que esta amizade interferiu na minha forma de pensar e de agir sobre mim mesmo e sobre o mundo, mas me tornei espírita em 1980 e passei a estudar os princípios codificados por Allan Kardec, além das muitas obras psicografadas por Chico Xavier e outros companheiros de Ideal.

Jhon Harley e Chico Xavier
ALEX - Qual a relação estabelecida entre Chico Xavier e Pedro Leopoldo e como ficou essa relação com a saída para Uberaba?

TOMTOM - Várias foram as razões que levaram Chico Xavier a sair de Pedro Leopoldo, entretanto, a maior razão foram as acusações do seu sobrinho Amauri Pena dizendo que o tio era um grande farsante. Entretanto, temos uma carta que esclarece que o Chico já tinha intenção de sair de Pedro Leopoldo, sob orientação de Emmanuel, para ampliar suas atividades, por volta de meados da década de 60, mas foi obrigado a antecipar esta decisão.

   Chico Xavier dizia que Pedro Leopoldo foi sua mãe e Uberaba uma tia, mas uma tia muito querida. De 1981 para cá posso dizer com tranquilidade que as relações de Pedro Leopoldo com Uberaba foram as melhores possíveis.

ALEX - Qual a sua percepção do entendimento da população de Pedro Leopoldo sobre Chico Xavier?

TOMTOM - O mesmo entendimento que tem a população brasileira: um homem que destinou 75 anos de sua vida em favor do outro. Um típico mineiro que adorava uma boa prosa e ficava profundamente constrangido com os elogios. Viveu da sua modesta aposentadoria e se dedicou integralmente na construção do bem coletivo. Deu tanto sentido à vida que contagiou milhares de pessoas. Por isso “Mineiro do Século” pela Telemar e Rede Globo Minas ou o “Maior Brasileiro da História” pela Revista Época.

ALEX - Quem foi Chico, na sua visão?

TOMTOM - Em tempos de tanta intransigência e intolerância e dentro de um contexto social individualista espero, sem nenhuma intenção de divinizá-lo, ter conseguido dizer que a humanidade em Chico Xavier ultrapassou os limites dos movimentos religiosos por mim conhecidos, se materializando, no transcorrer dos seus 92 anos de idade, em forma de generosidade, compaixão e amor.

   Parafraseando o biógrafo uberabense Carlos Baccelli, diria que Chico Xavier não foi um “anjo” exercendo o papel de um homem, mas um homem, do mundo e no mundo, exercendo o papel de um “anjo”.

Jhon em momento íntimo e familiar com Chico
ALEX - Poderia contar algum caso curioso envolvendo o Chico e que você presenciou?

TOMTOM - Ainda me lembro quando, em uma das minhas visitas ao Chico Xavier, me deparei com uma situação inusitada. Ao seu lado, observei que uma senhora, chorando copiosamente começa a descrever um quadro doloroso. Havia perdido toda a sua família em um acidente automobilístico. Fiquei me perguntando como seria possível consolar uma dor tão intensa? O que ele poderia dizer que pudesse reconfortar aquela mulher? Para minha surpresa e de todos os demais que acompanhavam aquela comovente cena, Chico se levanta e a abraça. Choram os dois.

   Depois do abraço busquei curioso o olhar daquela mãe e observei que a dor ainda permanecia na face, mas ela esboçou um sorriso que eu nunca consegui compreender até hoje. Diria que Chico Xavier sem dizer nada, disse tudo. Esta cena se passou em meados dos anos 80 e até hoje procuro entender e vivenciar o que vi. Para mim, Chico Xavier foi uma das poucas pessoas que melhor conseguiu exemplificar o ensinamento evangélico “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

ALEX - E agora falando de seu livro Tomtom: Há quanto tempo iniciou a Construção do livro "O Vôo da Garça"?

TOMTOM - As razões deste livro começaram a tomar forma em abril de 1995, quando o Jornal “Oficina Humana”, de circulação restrita na região de Pedro Leopoldo, lançou uma edição comemorativa dos 85 anos de Chico Xavier. A convite da diretora do Jornal, Núbia Albano Soares, escrevi um artigo onde procurei falar um pouco mais sobre a sua humanidade. Dizia no artigo: “Quando se fala em Chico Xavier muitas pessoas imaginam um ser distante de nossa realidade. Um mito inabordável a qualquer sentimento humano, como se ele não fosse de carne e osso”. Em outra passagem considerava: “Desmistificar o mito Chico Xavier é reconhecer que como qualquer ser humano ele tem limites e necessidades de carinho, respeito e atenção”.

   Como mantínhamos uma regular correspondência, enviei para Uberaba alguns exemplares e qual não foi a minha surpresa quando recebi uma carta e um telegrama do próprio Chico pedindo que, se fosse possível, enviasse outros exemplares. O artigo nada tinha de excepcional, sua linguagem era muito simples, uma conversa ao “pé do ouvido”, falando de um Chico Xavier tão humano como qualquer um de nós, mas que vivendo intensamente a sua humanidade, nos dava a impressão de um ser humano diferente e especial.

   Em 2008, no I Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier e Sua Obra, comecei uma pesquisa mais sistematizada.

Chico na Casa dos Pais de John Harley
ALEX - Daqui há pouco falaremos sobre estes "Encontro Nacional dos Amigos" que vem ocorrendo, mas ainda falando do seu livro, qual o objetivo desta obra?

TOMTOM - Na grande maioria das obras pesquisadas fala-se muito mais sobre o Chico Xavier na cidade de Uberaba do que de sua terra natal. No livro falo do Chico em Pedro Leopoldo entre os anos de 1910 a 1959. Nada contra a cidade de Uberaba, pois foram nesta cidade as melhores lembranças desta convivência.

   O livro representa também o olhar de um pedroleopoldense sobre outro pedroleopoldense, recuperando informações históricas importantes e que foram equivocadamente reproduzidas, além de destacar aspectos de sua humanidade.

   Através desta pesquisa, passei a admirá-lo ainda mais, porque dentro do contexto social que vivemos existem outras pessoas com as mesmas características de humanidade, mas que não conseguiram dar tanto sentido a vida como ele conseguiu.

ALEX - E por que o título "O Vôo da Garça"?

TOMTOM - O poeta e escritor pedroleopoldense José Issa Filho, transitando entre a realidade e a ficção, nos conta no livro intitulado “Coisas do reino de Pedro Leopoldo 3” uma curiosa história narrada por três distintos personagens da nossa cidade, entre os quais se destaca a habilidade poética de Sá Tomásia, uma antiga benzedeira da região. Segundo ela, na manhã do dia 02 de abril de 1910, data do nascimento de Chico Xavier, teria acontecido na cidade de Pedro Leopoldo, na região da Fazenda Modelo, um curioso fenômeno com as garças. Foi a manhã mais linda que ela já viu.

   Estou me apropriando desta história para dizer que uma destas garças pousou na cidade de Pedro Leopoldo, exatamente no dia 02 de abril de 1910, na Rua de São Sebastião, “trazendo amor e compaixão, e por isso mesmo, transformando as noites de muitos angustiados e aflitos em dias ensolarados de esperanças e alegrias”, como bem disse José Issa Filho.

Chico Xavier e John Harley
ALEX - Chico foi um homem que viveu a caridade. E muitas vezes as pessoas tentam endeusar, criar um mito ou canonizar o Chico! Por que considerá-lo um santo?

TOMTOM - Em 2000, Chico Xavier foi eleito pela população do Estado de Minas Gerais, em uma promoção da Telemar e da Rede Globo Minas, o “Mineiro do Século”. E em 2006, pela Revista Época, foi considerado pelos internautas, juntamente com Rui Barbosa, o “Maior Brasileiro da História”. Respeitado e admirado por milhões de pessoas em todo o país e mesmo fora de nossas fronteiras. Uma unanimidade nacional no campo do trabalho e da assistência social.

   Uma de minhas alunas, indignada com o resultado desta pesquisa me perguntou o que Chico Xavier teria feito para ser considerado o “Mineiro do Século” (foram 704.030 votos), já que ele não teria “inventado” ou feito nada de especial. Confesso que olhei para ela com certa indignação. Ameacei responder, mas a partir deste questionamento, comecei a pensar mais profundamente qual teria sido a sua "grande invenção”. Qual foi o seu grande legado? Talvez a demonstração concreta de ser humanamente possível colaborar na construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais feliz.

   Na perspectiva histórica que a pesquisa se desenvolve compreendo que não é um simples gesto de uma pessoa qualquer que pode magicamente transformar a forma de organização social em que vivemos, mas não posso deixar de afirmar que a coerência entre o falar e o agir, associado ao seu poder de mobilização, pode gerar uma ação coletiva de proporções inimagináveis. Para mim, Francisco Cândido Xavier ou simplesmente Chico Xavier, foi uma dessas pessoas.

ALEX - Já falei com o Geraldinho sobre este Encontro maravilhoso que vocês promovem e agora pergunto-lhe: Quais os objetivos dos Encontros Nacionais dos Amigos de Chico Xavier e sua Obra?

Jhon em um dos Encontros
 TOMTOM - Gosto de dizer claramente que os organizadores destes Encontros não têm nenhuma intenção de divinizar a figura humana de Chico Xavier, mas divulgar seus exemplos de renúncia e amor inspirados em Nosso Senhor Jesus Cristo. O objetivo central é incentivar a leitura sistematizada e o estudo das obras psicografadas por Chico Xavier, por entendermos que elas representam o desdobramento das obras da Codificação Kardequiana. Nesta direção, o CREBARV (Conselho Regional Bacia Alto Rio das velhas) já fez uma proposição a todas as casas espíritas vinculadas a este Conselho, seguindo os mesmos moldes da Semana Allan Kardec, já historicamente instituída em outubro de cada ano em nossa região, de organizarmos a Semana Chico Xavier, em todo mês de abril. E estamos aproveitando o espaço para que esta idéia seja espalhada em todo o país. Com Jesus e Kardec, inspirados nas obras e exemplos deixados por Chico Xavier, esperamos fortalecer o movimento espírita, em bases de amor, solidariedade e respeito pelas diferenças.

ALEX - E qual a sua opinião sobre a polêmica questão: Chico é a reencarnação Kardec?

TOMTOM - Eu não entrei nessa questão no livro, porque não era o foco e porque a mesma merece ainda amplas pesquisas, cujos instrumentos não estão à nossa disposição. Vou dar a minha opinião. Durante 21 de convivência, eu recebi 132 obras autografadas e que me foram enviadas pelo Chico via Correio. Em 1992, ele me mandou, sem que eu pedisse, a obra chamada Kardec Prossegue, escrita por Adelino da Silveira – outro amigo do Chico. Como fiz com todas as obras, eu li cuidadosamente. A tese central da obra afirmava que Chico foi Kardec! Um dia na cidade de Uberaba tive a coragem de perguntar: Chico você é Kardec? Ele não me disse que sim nem que não. Mas me questionei: por que ele mandou essa obra autografada para tantos amigos? Ele sempre foi muito cuidadoso com os livros... Seja para prefaciar ou para enviar uma obra para alguém. Sinceramente, creio que ele quis nos dar um recado. Defendo a tese de que Chico é a reencarnação de Kardec, em razão desse e de outros fatos! Respeito à opinião de quem pensa diferente, mas também posso afirmar que Adelino não publicaria esse livro sem o consentimento de Chico Xavier. Eu perguntei a Nena Galves se Chico havia dito para ela alguma coisa e ela me disse que ele não havia comentado nada, mas ela disse que se Kardec estivesse reencarnado, como estava previsto em Obras Póstumas, ele seria o Chico. Não há outro que pudesse ocupar essa função. Mas isso não é o mais importante, eu acho que o maior reconhecimento que poderíamos prestar a Chico Xavier é considerar suas obras psicografadas não mais como obras subsidiárias da Codificação, mas como obras básicas, porque elas representam o seu prolongamento natural, sem com isso desconsiderar a progressividade da nossa Doutrina nem a contribuição de vários outros espiritistas, como Zilda Gama, Bezerra de Menezes, Divaldo, Yvonne Pereira, Eurípedes Barsanulfo, dentre outros.

ALEX - E o filho de coração de Chico – Eurípedes Higino dos Reis – qual o papel dele na vida do médium? Fale-nos sobre isso já que você é um biógrafo que teve acesso à intimidade de casa do médium mineiro durante 21 anos?

TOMTOM - Nas histórias que conheço há quase sempre o papel do herói e do vilão. Nesta história Eurípedes exerceu um difícil e delicado papel, pois coube a ele, em um determinado momento, resguardar o Chico de tantos pedidos e solicitações. Eu vi o Chico algumas vezes, não desejando receber determinadas pessoas, pedir ao Eurípedes para dizer que ele não estava ou que não poderia atender naquele momento. Mas é o mesmo caso que disse anteriormente: conviver com Chico, quem suportaria acompanhar tal nível de exigência e exposição pública?! Eu não suportaria! Porque era muita renúncia num ritmo de atividades impressionantes! Creio que Eurípedes exerceu um papel importante e é verdade que o Chico gostava muito dele. Todas as vezes que ia a Uberaba ele sempre me perguntava se eu havia cumprimentado e despedido do Eurípedes. E no final da vida, os papeis haviam se invertido: Chico havia virado filho e Eurípedes o pai. E isso com consentimento do próprio Chico, por mais estranho que isso possa parecer! Posso também afirmar que o desencarne do Chico mexeu muito com o Eurípedes. Hoje, observo que ele está muito mais sensibilizado.

ALEX - E Emmanuel está reencarnado ou não?

TOMTOM - Pela primeira vez vou falar de uma preocupação que eu só disse para os meus amigos mais íntimos...

ALEX - Fico honrado com isso! Prossiga...

TOMTOM - De todos os assuntos que tem sido ventilado em nosso movimento, tenho certeza absoluta que um destes assuntos deixaria o Chico Xavier profundamente preocupado: as supostas comunicações de Emmanuel depois da sua desencarnação. Sinceramente, não sei o porquê do interesse e da fixação de alguns médiuns em receber o espírito Emmanuel. Reconhecimento? Prestígio? Em 2010, na cidade de Uberaba, no III Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier e Sua Obra, a companheira Nena Galves apresentou um vídeo onde o Chico falou claramente que Emmanuel estaria aguardando o seu retorno para a pátria espiritual para que ele pudesse reencarnar. Ele deveria reencarnar quando o Chico voltasse, mas o médium recebeu muitas moratórias, a última foi de um ano, documentada inclusive pela televisão, quando uma luz misteriosa entrou pela janela do hospital, então, Emmanuel, voltou antes que o retorno do médium acontecesse. O próprio tribuno Divaldo Franco deu um depoimento falando da reencarnação de Emmanuel. Afirma isso também outros amigos, entre eles, Eurípedes Higino dos Reis, Geraldo Lemos, Carlos Baccelli, Richard Simonetti, Divaldinho, Sônia Barsante, Suzana Mousinho e Dr. Elias Barbosa, que Emmanuel viria como professor e que trabalharia na mediunidade. Os dois brincavam: Chico dizia para Emmanuel que veria como é difícil ser médium na Terra, ao que o mentor respondia que ele iria ver como era difícil ser mentor de médium no mundo. Sinceramente, pelas conversas e convivência que tive com Chico, não tenho dúvida de que Emmanuel se encontra encarnado para dar continuidade à sua portentosa missão.

ALEX - Conte-nos um caso de sua vivência pessoal com Chico Xavier.

TOMTOM - “Qual foi o acontecimento que mais o alegrou na seara espírita até o dia de hoje? Resposta: Tenho tido sempre muitas alegrias em minha vida mediúnica, principalmente na recepção dos livros de nossos Instrutores do Alto, no entanto, assinalo, como sendo uma das mais belas surpresas da minha vida de médium, a saída de meu corpo físico, durante algumas horas, em julho de 1943, na companhia do nosso amigo desencarnado, André Luiz, a fim de conhecer uma faixa suburbana de ‘Nosso Lar’, a cidade que ele descreve no primeiro livro que ele escreve, por meu intermédio, providência essa que Emmanuel permitiu fosse tomada para que eu não prejudicasse a psicografia de André Luiz, cujas narrações eram para mim inteiramente novas.” (No Mundo de Chico Xavier, páginas 106 e 107)

   O caso que narro abaixo foi contado pelo Chico, em meados da década de 80, na casa de sua irmã Luiza Xavier, na cidade de Pedro Leopoldo (MG). Estávamos conversando sobre o livro Nosso Lar, quando indaguei como seria a cidade de Nosso Lar e se ele já teria sido levado pelo espírito André Luiz para conhecê-la. Ele me disse que no capítulo do livro intitulado Bônus Hora, ele havia parado de psicografar por uns 15 dias. Ele pensou que estava sendo mistificado. Segundo ele, André Luiz, percebendo que a dúvida poderia atrapalhar o desenvolvimento da obra, disse que em uma das quartas-feiras ele seria levado para conhecer alguns aspectos da cidade. Recomendou o Chico quanto aos cuidados em relação aos pensamentos e a alimentação. E aconselhou que ele deitasse em decúbito dorsal, procurando evitar qualquer posição desconfortável, principalmente para a região do pescoço. Chico disse que ele se deslocou do corpo e ficou aguardando a chegada de André Luiz, mantendo boa consciência.

   No horário marcado, André Luiz e Chico “caminham” na Rua São Sebastião, em direção à Rua Comendador Antônio Alves (rua principal da cidade), e ficam aguardando em frente a matriz. Lá permanecem por alguns minutos, quando Chico observa que um veículo na forma de um “cisne” aterriza suavemente na rua. No lugar onde ficam os “órgãos do cisne” se localizavam as janelas e nos “olhos do cisne”, os condutores do veículo. Antes de entrar no citado veículo, André Luiz disse a Chico que a partir daquele momento ele não precisava articular nenhuma palavra, que se comunicariam através do pensamento. Entraram no veículo e Chico observou que todos os lugares já estavam ocupados, com exceção dos dois últimos. Chico perguntou mentalmente a André Luiz o que aquelas pessoas estavam fazendo ali e ele disse que muitas estavam indo à cidade de Nosso Lar para refazimento e outras, para orientação e instrução, sempre acompanhadas por algum amigo ou benfeitor espiritual.

   Chico observou que o deslocamento do veículo era muito diferente do avião comum que, para pegar altitude, tem de se dispor de muito espaço. Ao contrário. Aquele veículo pegava altitude rapidamente e foi exemplificado com as mãos que o veículo pegava altitude utilizando um movimento espiralado. Chico não soube precisar exatamente quanto tempo esteve no veículo, mas me relatou que acreditava ter ficado por volta de 40 minutos. Disse ainda que não era possível observar pela janela o que estava acontecendo na paisagem exterior e que, de repente, o veículo fez um movimento semelhante quando empurramos um objeto de plástico para o fundo da água e soltamos, ele volta um pouco acima do nível da água e depois se acomoda na superfície. Naquele momento, quando Chico olhou pela janela, o veículo estava sobre um oceano. Segundo André Luiz, na perspectiva de Nosso Lar os encarnados "estão vivendo em um mar de oxigênio”.

   O médium relatou que o veículo deslizou por alguns minutos na horizontal e parou em uma espécie de porto. O comandante da “nave” disse a todos que deveriam estar novamente naquele local a uma determinada hora. Cada grupo seguiu a sua direção. Chico afirmou que no trajeto para a cidade existiam flores emitindo cores variadas. André Luiz disse que pela manhã as flores absorvem a luz solar e à noite emitem luz, permitindo um jogo de cores impressionante. Chico não teve permissão de conhecer a Governadoria. Observou que as ruas eram bem largas e arborizadas. Conheceu algumas dependências do Ministério da Regeneração. Disse que entrou em uma espécie de hospital (acho que ele se referiu ao Santuário da Benção). Viu muitos enfermos. Observou que as lâmpadas neste local tinham a forma de um coração. André Luiz disse que durante as orações da Governadoria e de toda a comunidade, pontualmente às 18h, os enfermos recebem energias de refazimento através destas lâmpadas. André Luiz falou sobre o chamado Bônus Hora, explicando o seu mecanismo. Boa parte desta explicação consta no próprio livro. Retornaram no horário previsto.

   Das obras psicografadas pela faculdade mediúnica do nosso Chico Xavier, em minha opinião, a série André Luiz representa uma fonte inesgotável de informação, consolo e esclarecimento. Precisamos estudá-la urgentemente.

ALEX - E Jerônimo Mendonça Ribeiro “O Gigante Deitado”, o conheceu também?

TOMTOM - Nos anos 80 pude acompanhar o nosso irmão Jerônimo. Algumas vezes nos encontramos na Casa da Prece em Uberaba e ficava admirado em ver sua alegria contagiante de viver, o seu bom humor e a sua perseverança no bem. O nosso amigo foi um exemplo de espírita cristão e deu testemunho da sua fé em Jesus.

ALEX - E para terminar...Deixe uma mensagem aos nossos leitores co-relacionando o nosso Chico!

TOMTOM - Em 30 de junho de 2002 a garça alçou novos voos, deixando um rastro de exemplificação em generosidade, compaixão e alegria de viver. Mas também deixou muitas saudades, pois já não é possível a conversa ao “pé do ouvido”, se encantar com suas risadas gostosas e passar pelas noites e madrugadas ouvindo os casos recheados de amor e ensinamentos.

   Como poderei esquecer os bate papos na casa de Cidália Xavier e Maria Luiza Xavier em Pedro Leopoldo? Os livros, os pacotes de mensagens e os cartões ornamentados com amores-perfeitos enviados pelo correio? Os almoços deliciosos aos sábados preparados pela incansável e fiel Dinorá? As memoráveis reuniões na Casa da Prece? As atividades sociais no Abacateiro e na Vila do Pássaro Preto, em Uberaba? E o sorriso todo característico de quem estava de bem com a vida “fazendo contrariedades do tamanho de elefantes, que ocupavam a cabeça dos desesperados, ficarem menores que peixinhos de aquários”.

ALEX - E onde esta garça vai pousar novamente?

TOMTOM - Só Deus o sabe.

Capa do Livro
ALEX - Encerramos nossa entrevista por aqui, colocando a seguir depoimentos sobre o livro "O Vôo da Garça" do nosso entrevistado Jhon Harley Madureira Marcondes e em seguida um e-mail que foi enviado pelo Geraldinho Lemos Neto sobre a Reencarnação de Emmanuel.

“Confesso-lhe que comecei a ler o seu excelente livro na viagem de retorno a Salvador e já o concluí. Está muito bem urdido, numa trama literária rica de conteúdos doutrinários bem colocados, sem os exageros habituais, numa análise histórica muito bem resgata sobre a vida e a obra do apóstolo da mediunidade. Parabéns! Que venham outros livros, pois que estamos necessitando de leituras dignas.”
Divaldo Franco

“Trabalho muito bem escrito, claro, ponderado, sem arroubos que pudessem induzir a uma adoração mística desse homem notável que foi o Chico. Trabalho equilibrado, justo, sem conduzir ninguém a devocionismo inoperante. Você soube mostrar o Chico que conhecemos em Pedro Leopoldo, com a naturalidade de um santo – que sempre o caracterizou –, sem colocá-lo num pedestal. Creio que ele se sente feliz por isso. Estive em Pedro Leopoldo há duas semanas, revendo locais que não via há muitos anos. Conheci o Chico em 1955. Participei de reunião no Grupo Meimei, dirigido pelo Arnaldo Rocha. Você soube retratar bem esses anos do Chico em Pedro Leopoldo. Seu trabalho, até onde posso julgá-lo, está muito bem feito, em linguagem nobre, sem ser pedante e clara sem ser vulgar. Parabéns. Já pedi à Livraria Espírita Cristã daqui que encomende alguns exemplares, pois pretendo recomendá-lo, sem favor algum.”
José Passini


“O escritor mineiro Jhon Harley, pouco tempo atrás, por meio do serviço editorial da Casa de Chico Xavier, lançou seu dedicado livro O Voo da Garça, uma das mais completas obras da vida de Chico Xavier, principalmente do início de sua trabalhosa vida mediúnica, desde o nascimento em Pedro Leopoldo (MG). Se o leitor quer uma obra bem informada e ilustrada sobre Chico, compre este livro.”
Fernando Ós


“Você está de parabéns. Já terminei de ler o livro, que considerei um documento sério, rico em informações e testemunhos e, ao mesmo tempo, humano, poético e maravilhoso. Não estou apenas cumprimentando o Autor pelo valor da obra, que merece todos os elogios; estou agradecendo em nome de todos os amigos e admiradores daquele que, em sua simplicidade maravilhosa, foi e será, sempre, o nosso Irmão Maior. Aquele que tenho a honra e a satisfação de poder chamar de amigo Chico merecia, mesmo, algo como essa sua oferenda em forma de um livro de leitura agradável, rigor histórico e metodológico e, principalmente, de fidelidade à verdadeira personalidade do maior de todos os nossos médiuns.”
Raul Marinuzzi

"Terminei de ler "O Voo da Garça" - excelente! Você foi muito feliz ao longo de toda a obra. Parabéns. Penso que Chico deve ter ficado muito contente, sobretudo, porque não confiou em vão em você - ele sabia do que você seria capaz no futuro! Não que ele desejasse uma obra assim, qual a sua, em torno do nome dele. Todos sabemos que Chico se preocupava, e preocupa, unicamente com a Mensagem do Cristo. Para ele mesmo, ele não é Chico Xavier, que, sem dúvida, é uma Bandeira de Luz hasteada na divulgação de nossos Princípios! Portanto, meu caro, parabéns! Que Jesus abençoe a você e a toda sua família. Que você prossiga sempre fiel ao que aprendemos, ou tentamos aprender, com o nosso saudoso amigo."
Carlos Baccelli


“Muito bem escrito, claras as elucidações, enriquecendo sobremaneira as informações tradicionais de nosso conhecimento com novos e significativos dados. Estou emocionado com o seu trabalho. Você efetivamente caprichou... O título é sugestivo e me diz muito.”
Caio Ramacciotti


"Gostaria de dizer-lhe que tenho convicção de que seu belo e o oportuno livro, "O Voo da Garça", causou um grande impacto entre os companheiros estudiosos de Doutrina Espírita, principalmente dos mais ligados a Chico Xavier e a obra de que fora fiel intérprete. Em minha modesta opinião, a obra se destaca por dois motivos principais: primeiro, porque presenteia-nos com fatos inéditos; e, segundo, porque esmera-se em informações sobre a vida e casos ocorridos em Pedro Leopoldo até o ano de 1959, ano em que Chico transferiu-se para a cidade de Uberaba. Era o livro que faltava para se incorporar, com ênfase, nas cerca de duas centenas de obras biográficas sobre o incomparável médium Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico. Parabéns.”
Weimar Muniz


“Infelizmente não nos conhecemos pessoalmente. Sou um médico, nascido em Belo Horizonte, mas que se mudou quando criança para São Paulo. Hoje moro em São Vicente, no litoral paulista. Na Casa de Chico Xavier, tive a oportunidade de comprar seu livro "O Voo da Garça" e o "Primeiro Livro". Comecei pelo seu e ainda estou na metade, porém resolvi te escrever para parabenizar pela idéia e pelo modo como você procurou esclarecer todos os fatos conflitantes sobre a biografia de Chico (nome próprio, nome da mãe, datas, etc.) e pelo vasto material iconográfico, que "complementa" as fotos que tirei durante minha visita. Realmente, seu livro irá se tornar um trabalho de referência para posteriores biógrafos.”
Maurício Vilela

"Prezado Jhon Harley. De ontem para hoje li sua biografia do Chico Xavier. Gostei muito. Considero a melhor biografia do médium, de todas as que li até hoje. Bem escrita, sem pieguismos, mas sem deixar de ser digna da História e do Manoel de Barros. Vou escrever uma crônica. Abraço cordial."
Luciano dos Anjos


“Gostei muito do nível de detalhes históricos sobre a trajetória de Chico em Pedro Leopoldo e não conheço nenhuma outra literatura que tenha adotado a mesma narrativa, parabéns! Neste grupo de admiradores da obra de Chico Xavier, que a cada dia aumenta, o seu livro enriquece e registra fatos num só documento.”
Sidney Pace

"Já fazia certo tempo que não lia palavras e textos tão fieis ao que representou a vida do nosso amado Chico. Com seu livro O Voo da Garça, encontrei lições que apenas uma pessoa apaixonada pelo seu biografado pode buscar. Lições que o tempo costuma distorcer, mas a paixão pela verdade não permite apagar. Falar de Chico requer sempre um limite. Um limite entre a devoção e a razão. Nos tempos atuais noto que muitos corações achegados ao médium não conseguem expressar este bom senso. O falar apaixonado e o falar desprovido da devoção. Você soube colocar isto em seu livro amigo Jhon. As palavras de um pesquisador/historiador sem perder a poesia. A leitura além de agradável, torna-se confiável, tal qual em minha opinião tornou-se o livro do maior biógrafo de Chico, Marcel Souto Maior, jornalista da Globo. Que outros voos referente a Chico venham. É sempre muito reconfortante ouvir histórias de Chico Xavier.''
Roberto Silveira

"O confrade Jhon Harley é um dedicado servidor da Causa Espírita na cidade natal de Chico Xavier, Pedro Leopoldo. Em sua trajetória conta-se a presença no movimento de mocidade espírita, nas tarefas como palestrante e expositor dos postulados da doutrina, na assistência fraterna pelas atividades do Grupo Espírita Scheilla e da Casa de Chico Xavier, e também a atuação vibrante junto ao movimento de unificação pela Aliança Municipal Espírita - AME - de sua cidade. É também co-partícipe da organização dos Encontros Nacionais dos Amigos de Chico Xavier e sua Obra desde 2008. Em 1981 Jhon tornou-se amigo de Chico Xavier, desenvolvendo a partir daquela época profícua amizade com o medianeiro de Jesus. Por ser também nascido na cidade de Pedro Leopoldo, é muito natural que uma afinidade maior se estabelecesse entre Jhon e Chico, e entre Jhon e todos aqueles que conviveram com Chico Xavier nos seus primeiros tempos de mediunidade e serviço na bucólica cidade do interior de Minas Gerais. Acompanhamos a dedicação à pesquisa em que Jhon Harley se engajou, o entusiasmo de suas descobertas e a alegria do amigo em abordar a humanidade de Chico Xavier. Quando o livro em seu formato final nos foi apresentado causou-nos admiração e surpresa. Admiração pela profundidade da pesquisa e surpresa pelo ineditismo da abordagem que Jhon Harley nos oferece. Publicamos o livro pelo Vinha de Luz e nova surpresa, em dois meses a primeira edição se esgotou mostrando-nos que o gosto popular também apreciara sobremaneira o esforço de Jhon Harley. Parabéns Jhon por sua iniciativa ! De certo ela já contribui para o esclarecimento da compreensão de quem foi entre nós este homem diferente, mas tão profundamente humano, que é Chico Xavier."
Geraldo Lemos Neto

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E abaixo o e-mail enviado por Geraldo Lemos Neto
sobre a reencarnação de Emmanuel:

Fonte : Livro "Deus Conosco" de Francisco Cândido Xavier

Pelo espírito de Emmanuel - 3ª Edição - 2007/2010
Editora Vinha de Luz
http://www.vinhadeluz.com.br/

Nova reencarnação

Século XXI

“Conforme atestam várias pessoas que conviviam na intimidade com o médium Chico Xavier, por afirmativas dele mesmo, o espírito do benfeitor Emmanuel já está entre nós, na face da Terra, pela via da reencarnação. Num desses depoimentos, da Sra. Suzana Maia Mousinho, presidente e fundadora do Lar Espírita André Luiz (LEAL), de Petrópolis
RJ, amiga do médium desde 8 de novembro de 1957, Francisco Cândido Xavier lhe confidenciou detalhes sobre a reencarnação de Emmanuel, que voltaria à Terra no interior do Estado de São Paulo, no seio da família constituída pelo casal D. Laura e Sr. Ricardo, personagens do livro Nosso Lar, de André Luiz. Tempos depois, novamente o estimado médium Chico Xavier tornou a tocar no assunto em pauta com D. Suzana, afirmando ter presenciado o retorno à vida física de seu benfeitor no ano de 2000, vendo, então, confirmadas as previsões espirituais a respeito. Esse fato está em sintonia com depoimentos públicos do médium mineiro em três ocasiões distintas, veiculados em dois de seus livros publicados, a saber:

a) no livro Entrevistas, (IDE, 1971), quando, respondendo à questão 61, sobre a futura reencarnação de Emmanuel, Chico Xavier disse: “Ele (Emmanuel) afirma que, indiscutivelmente, voltará à reencarnação, mas não diz exatamente o momento preciso em que isso se verificará. Entretanto, pelas palavras dele, admitimos que ele estará regressando ao nosso meio de espíritos encarnados no fim do presente século (XX), provavelmente na última década“;

b) também no livro A Terra e o Semeador, (IDE, 1975), quando, respondendo à pergunta de número 33, Chico Xavier disse: “Isso tem sido objeto de conversações entre ele (Emmanuel) e nós. Ele costuma dizer que nos espera no Além, para, em seguida, retornar à vida física.”; e

c) assim também vamos observar outra confirmação de Chico sobre o assunto no livro organizado pela Dra. Marlene Nobre, e editado em 1997 pela Folha Espírita, cujo título é Lições de Sabedoria, que traz à página 171 da segunda edição a pergunta de Gugu Liberato a Chico Xavier: “É verdade que o espírito Emmanuel, que lhe ditou a base do Espiritismo prático no Brasil, se prepara para reencarnar?” Ao que Chico respondeu: “Ele diz que virá novamente, dentro de pouco tempo, para trabalhar como professor.”

Também uma vez, conversando comigo em Uberaba, e falando sobre a volta de Emmanuel, Chico nos confidenciou: ‘Geraldinho, o nosso compromisso, meu e de Emmanuel, com o Espiritismo na face da Terra tem a duração de três séculos e só terminará no final do século XXI.’”15

Em 26 de setembro de 1973, Chico Xavier concedeu entrevista à apresentadora Hebe Camargo na TV Gazeta de São Paulo, na qual revelou ser objeto de sua conversação com Emmanuel a reencarnação de seu guia espiritual na Terra: “Isso tem sido objeto de conversação entre ele (Emmanuel) e nós, e ele costuma dizer que nos espera no mundo do Além para, em seguida, retomar a vida física. Ele até costuma me dizer: ‘Quando eu estiver na vida física e vocês estiverem fora do corpo físico, vocês vão ver como é difícil entrarmos em comunicação com vocês e como é difícil orientar vocês para o bem’“.

Divaldinho Mattos, de Votuporanga, São Paulo, amigo íntimo de Chico Xavier e dirigente da Didier Editora, ao ler os artigos anteriores publicados pela imprensa espírita testemunhou, em contato telefônico com a Vinha de Luz, a respeito do tema. Divaldinho Mattos relatou que, em conversa presenciada por inúmeras pessoas do Brasil inteiro, num almoço na casa de Chico em Uberaba, nos idos do ano 2000, Chico afirmara para todos que o espírito de Emmanuel já havia retornado ao mundo físico pela via da reencarnação.

Outro depoimento público acerca da reencarnação do seu benfeitor Emmanuel encontra-se no duplo DVD “Chico Xavier Inédito – de Pedro Leopoldo a Uberaba”, organizado por Oceano Vieira de Melo e lançado em 2007 pela Versátil. No segundo DVD estão reunidos vários testemunhos de 2007, entre eles o do confrade Dr. Elias Barbosa, de Uberaba, que declara textualmente: “Eu me lembro dele (Chico) falar uma vez, e para todo mundo, não foi só para mim não, que quando ele desencarnasse o Emmanuel iria reencarnar. Isto é o que ele falou: “O nosso Emmanuel, gente, vai voltar! Está só à espera de eu partir...”

Como sabemos que Chico Xavier, no fim da sua vida física, tinha recebido uma extensão de tempo, concretizada numa nova moratória, permanecendo, por isso, mais tempo entre nós, segue outro depoimento, bastante esclarecedor, e que, por causa disso mesmo, se reveste da maior importância: D. Suzana Maia Mousinho e sua nora, D. Maria Idê Cassaño Mousinho, contaram que Chico Xavier lhes revelara, em outubro de 1996, que a filha da D. Maria Idê estava grávida e que as duas em breve seriam respectivamente bisavó e avó. Chico acrescentou ainda que o espírito de Emmanuel se tinha empenhado pessoalmente, em conjunto com o benfeitor espiritual do LEAL, Wilton Ramos Oliva, na seleção das características genéticas da futura criança (Carlos Augusto), para lhe garantirem sucesso na reencarnação. Esse ato do espírito de Emmanuel – segundo Chico Xavier lhes explicou – tinha sido o último dele na crosta terrestre, pois a partir daí (fins de 1996), Emmanuel subira aos planos mais altos da vida espiritual para, durante aproximadamente dois anos, se preparar para a sua própria reencarnação, a fim de regressar à vida física no início do século XXI.

Sônia Barsante, residente em Uberaba
MG e frequentadora do Grupo Espírita da Prece, de Chico Xavier, contou que num determinado dia do ano 2000, estando ela e outros companheiros reunidos com Chico, este se tinha ausentado em transe mediúnico durante alguns instantes. Ao regressar, Chico contou-lhes alegremente que tinha ido em desdobramento espiritual até uma cidade do Estado de São Paulo visitar um bebê, que era o espírito de Emmanuel, já reencarnado. E rematou dizendo a todos os que estavam presentes: “Vocês ainda vão reconhecê-lo!”

No dia 22 de agosto de 2010, em entrevista concedida à RedeTV!, no Programa Transição, Nena Galves, amiga de Chico Xavier, da cidade de São Paulo, relatou o que segue: “(...) nos estranha muito, dentro do movimento, que livros de Emmanuel ainda estejam saindo com a assinatura desse espírito. Porque o Chico não disse só a mim. Disse a várias pessoas que Emmanuel estava reencarnado. Nos disse também que acompanhou a reencarnação de Emmanuel no mundo espiritual, assim como acompanhou também a de sua mãe, Maria João de Deus, e também a de filhos de alguns amigos nossos. Chico acompanhava a vinda desses espíritos e acompanhou a de Emmanuel. Então Chico disse que ele estava reencarnado, que era necessário que isso acontecesse para quando ele passasse para o mundo espiritual. Tanto é que alguns anos antes de Chico desencarnar já não recebia mais Emmanuel. E foi por isso que ele falou, porque eu perguntei a ele: ‘Chico, você não está mais recebendo Emmanuel. Por quê?’ Então ele falou. (...)”

A Rede Globo transmitiu no programa Fantástico do dia 12 de setembro de 2010 extensa reportagem sobre Chico Xavier, mencionando a reencarnação de Emmanuel. Sobre o assunto, Divaldinho Mattos revelou: “Em uma noite, era aproximadamente uma e vinte da madrugada, ele (Chico Xavier) fez um relato de que Emmanuel aparecera dizendo que iria reencarnar. (...) A verdade é que ele está reencarnado no Estado de São Paulo e vai agir na educação. Quem sabia onde estava reencarnado Emmanuel? Somente Francisco Cândido Xavier.”






















8 de fevereiro de 2012

88 - ALEX entrevista PADRE MARCELO BARROS

Ele é pernambucano de Camaragibe.
Ele é monge beneditino, escritor, biblista e teólogo.
Aos 18 anos ingressou no Mosteiro dos Beneditinos de Olinda.
Mesmo os Beneditinos tendo uma tradição de serem ecumênicos, nosso entrevistado pediu em sua ordenação que pudesse visitar cultos de outras igrejas e religiões.
Ele foi ordenado padre em 1969 por Dom Hélder Câmara.
De 1967 á 1976, ele trabalhou ao lado de Dom Hélder.
Foi secretário e acessor do arcebispo para assuntos ecumênicos.
Foi Prior do Mosteiro da Anunciação do Senhor em Goiás.
Ele é um dos três latino-americanos da Comissão da Associação Ecumênica dos Teólogos do 3º Mundo (ASETT)
Ele coordena uma coleção sobre a Teologia do Pluralismo Religioso e um Cristianismo aberto a outras culturas e religiões.
No âmbito da Teologia da Libertação, ele desenvolveu um ramo próprio: a Teologia da Terra.
É Acessor das Comunidades Eclesiais de Base.
Foi por 14 anos do Secretariado Nacional da Pastoral da Terra (CPT), ligada á CNBB.
Depois disso foi Acessor da Pastoral da Terra por vários anos.
Hoje ele é Acessor Nacional do MST e de outros movimentos populares.
Em Recife, á nível regional, é Acessor do MTC - Movimento de Trabalhadores Cristãos. 
É fundador com Frei Carlos Mesters e outros, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI).
É convidado para falar em diversos países sobre ecologia e espiritualidade holística.
É articulista em revistas nacionais e internacionais.
Semanalmente publica artigos sobre espiritualidade ecumência no jornal "O Popular".
Até o momento já publicou quase 50 livros, traduzidos para diversas línguas.
O nome do nosso entrevistado de hoje é o Padre Marcelo Barros, ou como ele próprio gosta de ser chamado, de apenas Marcelo Barros.

ALEX - Olá Marcelo tudo bem? Você é um monge beneditino católico apostólico romano?

MARCELO - Sim, sou cristão de tradição católica e nessa tradição, vivo desde os dezoito anos como monge beneditino.

ALEX - Quem lhe ordenou foi Dom Hélder Câmara?

MARCELO - Como sou natural do grande Recife (Camaragibe) e era na época (1969), monge beneditino no Mosteiro de Olinda e Dom Hélder era o arcebispo de Olinda e Recife, ele me ordenou presbítero (padre) e me convidou para trabalhar com ele ajudando-o no setor do ecumenismo e da pastoral da juventude.

ALEX - Por quantos anos vocês trabalharam juntos?

MARCELO - Durante oito anos.

ALEX - Recentemente um escritor espirita publicou um livro mediúnico, "Novas Utopias", cujo escritor é o próprio Dom Hélder Câmara no além. Você até prefaciou esta obra. Como foi pra você saber notícias de Dom Hélder pós-túmulo?

MARCELO - Trabalho há anos e anos, pela unidade das Igrejas e no diálogo entre as várias tradições espirituais. Por isso, aceitei o pedido do irmão Carlos Pereira para prefaciar o livro que ele apresentou como sendo psicografado pelo espírito de Dom Hélder. Para dialogar, é importante que eu seja eu e você seja você. E eu prefaciei o livro nesse espírito do diálogo. Não me propus nem me foi pedido que eu aceitasse a psicografia ou aderisse ao espiritismo. Não entrei nesse assunto. Para mim o importante é que cada crente se disponha a escutar e acolher o outro e tente aprender do outro alguma coisa, mas sem deixar de ser ele mesmo. Sou cristão católico e escrevi como um exercício de diálogo com meus irmãos espíritas, aos quais estimo e prezo muito, mas sem por isso dever aderir a eles. Parece que isso não foi compreendido nem por católicos que me a cusaram de traição à Igreja, nem por espíritas que se utilizam do meu gesto de amor para ver nele uma adesão à doutrina espírita, que, em nenhum momento do meu prefácio, aparece. (O prefácio escrito por Marcelo encontra-se ao final desta entrevista em anexo). Quanto a notícias de Dom Hélder pós-túmulo, não me parece que tenha sido nem o assunto do livro. Era um livro sobre valores que Dom Hélder defendeu durante toda a sua vida: a paz, a não violência, a justiça, a fé e em nenhum momento ao que me lembro o livro fala dele mesmo depois da morte.

Livro psicografado por Dom Hélder
ALEX - É verdade que a renda obtida com a venda deste livro será toda revertida á Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao Instituto Dom Helder Câmara, de Recife? Você acredita que a Igreja esteja se aproximando mais do Espiritismo?

MARCELO - Não estou a par de nada sobre a venda do livro nem em que está sendo aplicada. Sei que alguns irmãos e irmãs do Instituto Hélder Câmara me criticaram muito por ter feito esse prefácio, o que é direito deles e eu respeito. De qualquer modo, somos irmãos e irmãs. Quanto a dizer que a Igreja esteja se aproximando do Espiritismo, me parece que se for para a Igreja aderir ao Espiritismo ou os espíritas aderirem ao Catolicismo, estamos falando de conquista e não de diálogo ou de unidade. E isso eu não quero e nem defendo. Só acredito na Unidade através da diversidade e do respeito às diferenças entre cada um...

ALEX - Concordo...

MARCELO - ...No século III, São Cipriano de Cartago dizia: "A unidade abole as divisões e supera a separação, mas respeita as diferenças". Penso que as pessoas verdadeiramente espirituais, tanto católicas, como evangélicas, buscam isso e não a adesão de uma a outra. Como se as religiões fossem firmas comerciais (Coca Cola contra Pepsi Cola) ou times de futebol que ora ganham, ora perdem campeonatos para saber entre eles qual se impõe ao outro. Isso não é espiritual e nem ético.

ALEX - No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo e teólogo Inácio Strieder, e a opinião favorável da historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados à Igreja Católica. Eles afirmam que "os tempos são chegados"?

MARCELO - Repito algo que me parece óbvio: tanto o amigo teólogo Inácio Strieder como outras pessoas que trabalham no diálogo, defenderam o direito do médium Carlos Pereira escrever o livro e eu como católico propor que uns crentes leiam o livro do outro e não só dos seus próprios companheiros de Igreja. Pelo que sei, nenhum deles falou em defender a adesão à doutrina espírita como tal, como nunca defenderiam que espíritas aderissem ao catolicismo. O contrário disso seria uma volta ao tempo das cruzadas e inquisições, só que dessa vez, não só feitas pela hierarquia católica medieval e sim pelos religiosos que se dizem abertos e modermos. Sou contra qualquer tipo de proselitismo e conheço muitos bispos e teólgoos católicos que têm boa relação com irmãos espíritas no espírito do diálogo e não para ver quem conquistou quem. Isso deixemos para filmes medievais e para grupos proselitistas e fundamentalistas atuais.

ALEX - Você é biblista, sendo assim, gostaria que você comentasse algo á respeito da reencarnação na Bíblia.

Monge beneditino Marcelo Barros
MARCELO - A Bíblia vem de uma antiga cultura semita (hebraica) que não divide o ser humano corpo e espírito e nunca poderia falar desse assunto, como depois a cultura grega será capaz de falar porque justamente a filosofia platônica divide a pessoa em corpo e alma e o mundo em material e espiritual. Penso que não devemos fazer leitura fundamentalista (fanática ao pé da letra) da Bíblia. Nesse sentido, nem os católicos podem querer condenar a reencarnação baseados em textos bíblicos que não falavam em princípio desse assunto, nem os espíritas usarem ao pé da letra certos textos para dizer que ali se falava em reencarnação. Não creio que ninguém ganhe com o fato de querer provar que Jesus disse que João Batista era Elias reencarnado e assim por diante. Se eu creio ou não creio em reencarnação, não preciso da Bíblia para referendar ou legitimar iss o. A Bíblia não fala de tudo e nem pretende ser um livro dogmático sobre todos os assuntos da fé.

    Quando o povo de Israel foi conquistado pelos impérios orientais e depois por Alexandre Magno, século IV antes de Cristo, aí sim entrou em contato com o helenismo e mais tarde com o gnosticismo. Aí sim em alguns círculos judaicos populares, há sinais de que acreditavam em crenças sincréticas que tinham certo conceito de reencarnação ou metempsicose oriental. Como também a noção neotestamentária da ressurreição vem daí. Na história da Igreja, alguns filósofos e teólogos parecem ter admitido, ao menos em algum período de vida, a possibilidade da reencarnação (Orígenes, por exemplo, no século III). Como a polêmica era muito forte e a repressão dogmática muito grande, isso não é um assunto claro. Nos anos recentes, teólogos cristãos do mundo inteiro dedicaram um número da revista teológica Concilium ao tema "Reencarnação ou Ressurr eição" e o artigo que concluía os vários estudos era de que talvez as duas crenças não sejam tão contrárias e excludentes como a Igreja Católica acreditava durante séculos. Não é meu assunto aqui e não posso nessas linhas explicar isso. O que quero deixar claro é que não tem sentido ser intolerantes uns com os outros nem achar que o melhor é quando uns aderem aos outros. Podemos ser irmãos e unidos sendo diferentes.

ALEX - Excelente sua explicação e "quem tem ouvidos para ouvir" saberá entender o que você nos passou nesta sua resposta. O melhor mesmo é termos convicção de nossa fé e não ficar "esfregando" a bíblia na face de ninguém, querendo competir, não é Marcelo? Interessante o que você disse de talvez as duas crenças não serem tão contrárias como a Igreja acreditava durante séculos. E ainda no assunto bíblia, lhe faço outra pergunta: Nela há uma passagem em que Jesus foi á sinagoga e viu um "homem possuído". Como assim?

MARCELO - Na cultura de Jesus, toda doença vinha de um espírito mau ou energia negativa. Naquele tempo, uma pessoa epiléptica estava possuída por um demônio. Como hoje, em geral, eram chamados de endemoniados os pobres e marginais. Pecador não era uma categoria moral. Era social. Jesus libertou essas pessoas integrando-as na sociedade e revelando a elas o amor prioritário de Deus pelos pequeninos e oprimidos.

Padre Marcelo Barros
ALEX - Eu já estive ligado ao MST e entendo quando você fala da parte espiritual existente naquele grupo. O que você poderia nos dizer sobre este movimento, sobre a Pastoral da Terra e sobre o querido Dom Pedro Casaldáliga?

MARCELO - A coisa mais importante da mensagem de Jesus é que Deus tem um projeto para o mundo e esse projeto é de paz, justiça e amor para todos. "Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância" (João 10, 10). Acredito que o MST como movimento popular autônomo (não é cristão e nem de Igreja), ao lutar pacificamente pela justiça no campo e para que a terra seja de todos, pela ecologia e pela agricultura familiar, testemunha profeticamente esse projeto divino de um mundo novo possível, mais do que trabalhos de Igrejas voltados só para a própria Igreja. Assim também é a Pastoral da Terra que ajuda as Igrejas cristãs a servirem ao povo do campo e salva muitas vidas. Dom Pedro Casaldáliga é um irmão e profeta que doou toda a sua vida ao povo pobre e aos índios. Quem o conhece tem a graça de conhecer um verdadeiro discípulo de Jesus e que, em sua bondade, revela a bondade divina.

ALEX - E seus livros, quantos você já escreveu?

MARCELO - Isso não é importante! Tenho 44 livros publicados no Brasil e alguns outros publicados em outros países. Mas o importante é se tenho servido às pessoas e ajudado meus irmãos e irmãs a serem mais felizes e livres.

ALEX - É importante sim (risos) e você tem servido ás pessoas sim! Falando em livros: "O Espirito vem pelas águas"?

Capa do livro
MARCELO - É o título de um livro meu, publicado pela Edições Loyola, em 2003. É tirado do primeiro versículo da Bíblia: "No princípio, Deus tinha criado o céu e a terra e o Espirito de Deus pairava sobre as águas". No hebraico, espírito é uma palavra feminina (ruah) e quer dizer ventania, sopro. Seria o que chamamos de "energia". As religiões antigas acreditavam que a vida surgiu em primeiro lugar das águas e por isso o Espírito vem pelas águas. Dei esse título ao livro para falar da atual crise da água e propor um cuidado maior com a água que é um bem universal e deve ser gratuito e direito de todos e nunca deveríamos permitir que a água seja privatizada ou mercantilizada como está acontecendo hoje em todo o mundo.

ALEX - Falando em espíritos, você já viu algum espírito materializar-se em sua frente?

MARCELO - Depende do que chamamos de "espírito". Já vi sim materializar-se em minha frente o espírito de amor, de solidariedade, de compaixão, como também já vi em um policial batendo em um homem de rua, a materialização de um espírito mau. Mas, no sentido que parece você me perguntar, não. Nunca vi um espírito de pessoa já falecida se materializar em minha frente. Respeito quem tenha visto e nunca negaria isso. Só não é essa a minha experiência e nem preocupação.

ALEX - Você sempre é criticado por defender o diálogo religioso com o Espiritismo, o Candomblé, a Umbanda...O Vaticano alguma vez já se pronunciou diretamente á você sobre estas questões?

MARCELO - Como muitos outros companheiros e companheiras, defendo que a diversidade das religiões é boa e fecunda para todos e que cada uma tem sua contribuição a dar para a humanidade. Diretamente nunca fui chamado ao Vaticano. Sei que os documentos do Papa e do Vaticano defendem o diálogo entre as religiões. Pessoalmente, nisso, sigo o evangelho de Jesus e procuro me inserir na minha Igreja local (A Igreja universal não é uma multinacional da fé dirigida pelo Vaticano, ou ao menos não deve ser. Deve ser uma comunhão de Igrejas locais autônoma).

Papa João Paulo II com Dom Hélder Câmara
ALEX - O Papa João Paulo II, ele queria difundir o Ecumenismo?

MARCELO - Ele fez vários gestos nesse sentido e escreveu uma encíclica chamada "Para que todos sejam UM" que inclusive pede aos irmãos de outras Igrejas que o ajudem nessa tarefa. Várias vezes, enfrentou a estrutura fechada do Vaticano, por exemplo, para convidar líderes religiosos de várias tradições espirituais para junto com ele fazerem uma peregrinação a Assis e se encontrarem lá para orar pela paz do mundo (1986).

ALEX - Que interessante. E o que é a Teologia da Libertação?

MARCELO - É o esforço para pensar a fé cristã a partir dos mais pobres e ligar o compromisso de crer com o de transformar o mundo de acordo com o projeto divino.

ALEX - Para finalizar nossa extensa entrevista, peço-lhe encarecidamente para deixar uma mensagem á todos os nossos leitores.

MARCELO - Para quem é de Deus, nada do que é humano pode ser estranho. Essa palavra de um espiritual do século III, diz para que nosso caminho seja de busca espiritual e de comunhão. De qualquer tradição espiritual que sejamos, o importante é nos colocarmos a serviço uns dos outros e ajudar nossa religião a dar uma verdadeira contribuição para que esse mundo seja mais justo e de paz.

Padre Marcelo Barros
ALEX - Querido irmão Marcelo, muito obrigado pela atenção, que Jesus continue a lhe abençoar nesta sua missão ecumênica e até a próxima! 

MARCELO - Cada um(a) de nós é portador(a) do Espírito e este precisa de nós que testemunhemos que esse Espírito é amor e vive em nós. Um teólogo cristão dizia que cada pessoa só pode reconhecê-lo presente no outro. Isso quer dizer que eu creio que ele está em mim sim, mas eu só o percebo se perceber em você e do mesmo modo você pode percebê-lo em mim e não em você mesmo. Isso eu creio que vale para o plano pessoal, mas também vale para o plano confessional. Peço a Deus para que nos ilumine para que possamos vislumbrar e contemplar essa ação e presença do Espírito Divino nas pessoas de outras religiões e nos grupos que pensam diferentemente de nós. Isso não nos levará a deixar nossa fé e tomar a dos outros, mas nos ensinará a viver a nossa de forma mais dialogal e universal. Obrigado pela oportunidade de conversar com vocês e que Deus abençoe á todos e á todas com sua ternura de amor e a alegria de sermos sempre e sempre mais livres interiormente.


Prefácio de Marcelo Barros no livro "Novas Utopias", obra psicografada por Carlos Pereira, pelo espirito Dom Hélder Câmara. Onde nosso entrevistado esclarece alguns pontos comentados por ele nesta nossa entrevista.


A luz que vem do outro

(Prefácio)

Marcelo Barros


   Todo livro é um diálogo entre quem escreve e quem lê. Entretanto, este que, agora, você tem nas mãos é, certamente mais ainda uma proposta espiritual de diálogo porque o autor o apresenta como um livro psicografado. De acordo com ele, tem um autor espiritual que é Dom Helder Câmara e este o ditou ao irmão Carlos Pereira, que, no caso seria apenas um fiel intérprete e obediente escrivão destas páginas do Dom.

   Prefaciar um livro é referendá-lo e aceitar ser para o autor como um paraninfo que o introduz em um novo círculo de relações. Normalmente quem faz o prefácio é sempre um autor mais famoso e consagrado que apresenta aos leitores um outro que precisa ser apresentado. Ao pensar que o autor deste livro é meu mestre e pastor Dom Helder Câmara, senti-me incapacitado de escrever um prefácio para esta obra. Entretanto, o irmão Carlos Pereira me pediu e ele deve saber o que está fazendo. Quando o mistério é grande demais, o jeito é deixar-se envolver por seu encanto e buscar espiritualmente a lição que Deus nos dá através do desconhecido. A realidade tem sempre diversas faces e epifanias. O mesmo fato pode ser visto e interpretado, ao menos, por dois ou mais lados. O Judaísmo acredita que tudo na Bíblia, até a lei divina, é passível de interpretações divergentes. Conforme a tradição judaica, um dia, um discípulo perguntou a um santo rabino porque, no monte Sinai, para escrever sua lei, Deus precisou de duas tábuas de pedra e não só de uma única. O rabino respondeu:

- Para que se saiba que há, ao menos, duas interpretações válidas para cada lei.

   Quem, em sua fé, aceita o fenômeno da psicografia, não procura provas nem busca semelhanças entre este escrito e as muitas obras que, no tempo em que estava conosco, o Dom nos deixou. Acolhe simplesmente e gratuitamente esta obra e aproveita as lições espirituais aqui contidas. Quem rejeita tal interpretação e não crê em psicografia pode, assim mesmo, ler este livro como herança espiritual de Dom Helder, pois se situa na mesma tradição da espiritualidade da paz, da não violência e da solidariedade que o Dom sempre nos ensinou.

   Em 1994, Dom Helder escrevia a amigos da Itália, reunidos no movimento Mani Tese (“Mãos estendidas”): “Não estamos sós. Por isso, não aceito a resignação e o desespero. A fome será vencida. No final, haverá paz para todos. Neste universo, a última palavra nunca poderá ser a morte e sim a vida! Não poderá ser o ódio, mas o amor! Não poderá ser o desespero, mas a esperança. Nunca as mãos enrijecidas, fechadas no ódio. Mãos estendidas e unidas na solidariedade e no amor para com todos”.

   Aqui, nestas páginas o estilo e o conteúdo mais expresso podem parecer diferentes do que Dom Helder escrevia, assim como os destinatários desta obra não são mais apenas os que o escutavam em sua peregrinação terrena. Dom Helder sempre insistiu que a unidade não só respeita as diferenças, mas pode delas nutrir-se. O amor pode transformar as diferenças em complementaridade. Para ele, o Diálogo é elemento intrínseco e essencial a toda religião e nos faz repensar nossa idéia de Deus e de espiritualidade. Por isso, ser solidário é o modo normal da pessoa viver no mundo e ser feliz, como dizia o monge Thomas Merton: “Nenhum ser humano é uma ilha”. É a base mais viável para construirmos sociedades firmadas sobre a defesa intransigente e permanente dos Direitos Humanos. Somos felizes por viver em um mundo, no qual estes caminhos nos são abertos.

   Para mim que quero consagrar-me e doar a minha vida a esta causa do diálogo e da unidade entre os diferentes, este livro me toca porque, lendo além das linhas e entre-linhas, sinto como se a sabedoria aqui transcrita, não vem apenas de Dom Helder e menos ainda do Carlos Pereira. São inspirações do Espírito Divino, energia de paz, que “sopra onde quer, ouve-se a sua voz, mas não sabe para onde vai nem para onde vem” (Jo 3, 7ss). A mim, cristão, cada página, aqui transcrita por Carlos, sussurra um nome que me leva ao Infinito: Jesus de Nazaré. Mas, me leva também a outros nomes que são sinônimos de amor e de paz, nas mais diferentes religiões e diversas culturas: Confúcio, Buda, Maomé, Zumbi dos Palmares, Maíra. Que riqueza. Nenhum mortal pode amordaçar a ventania. O mistério é nossa Paz e os caminhos religiosos, se conseguem sê-lo, podem apenas ser nossas parábolas de amor. Como, no século IV, escreveu Agostinho: “Apontem-me alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Dêem-me alguém que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que quero dizer” .

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