1 de janeiro de 2012

84 - ALEX entrevista CARLOS BACCELLI

    Hoje sabemos que em Uberaba, após o desencarne de Chico Xavier, três do diversos médiuns de psicografia na cidade são os mais procurados para este fim: Celso de Almeida Afonso, Alaôr Borges Júnior e Carlos Antonio Baccelli.

Dedicatória de Baccelli ao Alex em seu livro
   Este último citado, era o alvo de mais uma entrevista realizada por mim neste blog, mas ao apresentar minhas perguntas para ele, devido a quantidade delas e pelo pouco tempo dele disponível para este fim, ele disse-me após ler uma por uma: "Alex, estou muito atarefado com as psicografias e com as obras literárias. Quanto ás suas perguntas, eu ás respondi todas em um livro recentemente lançado." Eis que então ele deu-me de presente o livro "A Trajetória de um Médium", autografou-o e sugeriu "Você poderá extrair da obra o que desejar. Assim evitarei o trabalho de respondê-las novamente, já que, no momento, estou muito atarefado". 

   Não preciso dizer como fiquei feliz! É claro que eu gostaria de uma entrevista exclusiva com o Baccelli, mas realmente seu tempo está cronometrado nos últimos meses.

   Antes da entrevista havia feito-lhe algumas perguntas sobre o Jerônimo Mendonça para a minha pesquisa acerca da obra literária que estou elaborando sobre o "Gigante Deitado" e ele respondeu-me "Infelizmente não tive uma convivência estreita com o Jerônimo, que me autorize a responder as suas perguntas. Os meus encontros com ele aconteciam rapidamente nas reuniões do Chico, aqui em Uberaba, onde quase não tinhamos tempo para conversar. Desejo que você consiga o subsídios que necessita para o seu trabalho. Quem poderia lhe fornecer maiores informações sobre Jerônimo, seria a nossa irmã Maria Gertrudes, de Ituiutaba."

   E para finalizar ele acrescentou: "Desejo á você e á todos os seus muita saúde e paz".

   Ao ler o livro doado por Baccelli, pude perceber que realmente as perguntas que eu havia elaborado, eram idênticas á algumas colocadas no livro, que foram organizadas pelos confrades Luiz Carlos Barbosa Nunes e Paulo de Tarso Manso. Vale á pena ler esta obra que ainda vem com um brinde especial: Um dvd com 3 palestras do médium Carlos Antonio Baccelli.

   Sendo assim, as perguntas que eu havia elaborado para a entrevista, estão colocadas á frente da resposta dada pelo médium da mesma maneira em que ele respondeu no livro, onde fomos fiéis aqui no blog em suas palavras existentes nas páginas desta obra magnífica onde o Baccelli faz grandes revelações acerca de Chico Xavier, da Doutrina Espírita, dos Espiritos que se comunicam por ele, de sua vida pessoal e muito mais.

   Espero que o leitor goste da maneira inédita que foi realizada esta entrevista.
   Para maiores informações quanto ás veracidades dos fatos, consultem a obra citada.



ALEX - Baccelli, você nasceu em berço espírita?

BACCELLI - Não. Embora os meus pais não fossem assíduos frequentadores da Igreja, sou de formação católica. Fui batizado e fiz a Primeira Comunhão. Desde criança, muito me impressionavam as imagens dos santos nos templos e sempre gostei de observar o colorido dos vitrais. Em mim, havia certa vocação para o sacerdócio que nesta encarnação, não cultivei.

ALEX - E quando se tornou espírita?

BACCELLI - A partir dos 17 de idade, comecei a ler obras espíritas. Eu criava passarinhos, e um senhor, nosso vizinho, de nome Sinésio Santino de Oliveira que, além de ser passarinheiro, era ouvires e alfaiate, vivia me convidando para ir ao Centro. Ele se curara de alcoolismo no "Bittencourt Sampaio" e, assim, vivia doutrinando a turma...Tanto insistiu, que, um dia, fui a uma reunião da Mocidade e nunca mais deixei de frequentar a casa. Os primeiros livros que ele me emprestou para ler foram de Kardec e León Denis. Recordo-me até hoje do esforço que fiz para ler "A Gênese"!

ALEX - Quando e como começou a sua amizade com Chico Xavier?

BACCELLI - Comecei a frequentar a "Comunhão Espirita Cristã" na década de 70, eu estava com 17 para 18 anos de idade. Comecei a falar nas reuniões públicas da "CEC", enquanto Chico se entregava ao trabalho do receituário mediúnico, ás segundas e ás sextas-feiras os oradores iam se revezando na palavra. Para conseguir falar no meio daquele pessoal experiente, já com vasto conhecimento doutrinário, os espiritos amigos deviam ter me auxiliado muito. Eu não sabia quase nada, pois estava muito no início, mas, por eu ser jovem, eles ficavam muito animados comigo.

ALEX -  E como foi a primeira vez que você apertou a mão do Chico?

BACCELLI - Eu estava lá fora, no corredor, e ele mandou me chamar. Foi emocionante! A princípio, não acreditei que Chico estava me chamando. As pessoas foram abrindo caminho e eu fui passando...Ele segurou a minha mão e não soltava! Lembro-me apenas de me dizer: "Então você é o nosso Baccelli? Há muito tempo venho ouvindo você falar de longe..." É que eu subia á pé, de minha casa, no Bairro da Abadia, para a "Comunhão Espírita Cristã", num percurso de 7 a 8km, mais ou menos. Como caminhasse sozinho, eu ia imaginado-me á mesa da "CEC", efetuando uma palestra para o público, ou seja: ia falando sozinho! Eram "palestras" maravilhosas que, infelizmente em público, nunca consegui produzir. E ele me escutando! Chico "pegava" o pensamento da gente, tive várias comprovações pessoais á respeito. Ele não era médium para captar só pensamento dos desencarnados, não!

ALEX - Como você começou a psicografar?

BACCELLI - A vontade em escrever, em mim, era latente. As idéias vinham em cachoeira. Devo dizer, no entanto, que a proximidade com Chico Xavier me inibia. Como atrever-me á tanto? E depois, a turma de espiritas com a qual convivia em Uberaba era muito crítica: um médium não podia revelar tendência para a psicografia que estava querendo imitar o Chico...Muitos médiuns promissores não foram adiante por conta dessa tola comparação! O médium para ser médium precisa ser um pouco ousado. Foi assim: eu estava em meu quarto, deitado, quando subitamente me vi dominado por aquela vontade súbita de escrever...Levantei-me, fui para uma mesinha, peguei lápis e papel; aí o espirito Irmão José escreveu sua primeira páginas por meu intermédio.

ALEX - E você sentia assédio de espíritos obsessores?

BACCELLI - Sim, a coisa foi apertando aos poucos. Certa vez, acordei com a figura de um obsessor ao lado de minha cama, tentando me asfixiar! Pude vê-lo, como um monge de cabeça raspada, rosto afilado, olhos encovados, e senti a pressão de suas mãos na minha garganta. as perseguições espirituais duraram muito tempo. Eu pensava que estivesse doente e tinha medo de desencarnar. Os espiritos obsessores queriam que eu desistisse de ser espírita! Interessante: diz-se que muita gente chega á Doutrina pela dor e fica pelo amor...Comigo foi diferente: cheguei pelo amor e fiquei pela dor!

ALEX - E quais eram os sintomas e as maiores dificuldades encontradas quando você era obsediado?

BACCELLI - O coração acelerava, as mãos transpiravam com frequência, tinha uma estranha sensação de vertigem, prestes a cair a qualquer momento, até quando fazia palestras no "Bittencourt Sampaio", tinha a sensação de queda imenente, eu falava escorado na mesa...Quem também me auxilou muito, nesta fase, foi Antusa Martins. Eu ia tomar passes com ela, que atendia num pequeno casebre de madeira, nos fundos de sua casa. Eu a conheci através da Mocidade. Ela dizia que deveria ter paciência, que era assim mesmo, que tudo haveria de passar...E me mandava trabalhar! Como era surda-muda, a palavra "trabalho" era uma das poucas que ela conseguia pronunciar. Antusa devido ás suas faculdades mediúnicas, era uma surda-muda diferente, sua clarividência era extraordinária! A mediunidade lhe compensava as limitações físicas. Ela saía do corpo com extrema facilidade, tinha uma espécie de raio X nos olhos - quando se concentrava, nos enxergava o corpo por dentro, descrevendo o problema que acometia os órgãos enfermos...

Antuza Martins
ALEX - Você também chegou á trabalhar com ela?

BACCELLI - Sim, durante quase 3 anos fiz parte de sua equipe de médiuns passistas. Depois, no entanto, estudante de Odontologia que eu era, os horários na Faculdade foram apertando e me impediram de prosseguir. Mas nunca deixei de visitá-la. Quando chegava para vê-la, fora do horário habitual de visitas, ela sorria e, com gestos, descrevia o percurso que eu havia feito até sua casa. Nos dias em que não estava atendendo a multidão que a procurava ( a fila se estendia pelo corredor e saía pela rua), ela ficava confeccionando tapetes com retalhos, que vendia, com o intuito de obter recursos para comprar leite para as crianças de uma creche próxima.

ALEX - E ela frequentava a "Comunhão Espírita Cristã"?

BACCELLI - Sim. Inclusive, cooperando como médium passista. Sem rodeios, ela dizia que Chico era a reencarnação de Allan Kardec! Apontava para o retrato do Codificador, estampado na capa de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", e dizia: "Chiquim!..." Devido ás suas limitações, Antusa tinha maior facilidade para pronunciar certas palavras no diminutivo. Por exemplo: quando ia se referir a Eurípedes Barsanulfo, que foi quem a iniciou no Espiritismo, discípula de Eurípedes, ela articulava: "Oripim!..." Ela nunca sequer aprendeu a escrever o próprio nome e foi uma médium excepcional, portadora de várias faculdades, dentre as quais se destacavam a de cura, clarividência psicodiascopia e desdobramento. Ela compreendia o espirito da Doutrina sem jamais ter podido ler um livro sequer! Ela não podia me ver que ia logo "dizendo": "Você tem que escrever, escrever..." E fazia o movimento de escrita com a mão.   

ALEX - Falando em "Comunhão Espírita Cristã", por que Chico Xavier saiu de lá?

BACCELLI - Eu fui Secretário da "CEC" e participei da célebre reunião em que Chico dela se desvinculou, para fundar o "Grupo Espírita da Prece". Chico saiu delá porque não vinha concordando com a ação de alguns de seus Diretores. A "CEC" cresceu muito, não se parava de construir e de fazer campanhas ampliatórias. Aquilo constrangia o Médium que, de certa maneira, se sentia usado. Os Diretores mais antigos o pressionaram para que ficasse, mas ele se mostrou irredutível. Recordo-me como se fosse hoje: Chico, com sua palavra firme e batendo com a mão espalmada sobre a mesa, dizendo "Enquanto vocês se consagrarem ao trabalho da Caridade, Jesus não consentirá que nada lhes falte...Chico Xavier não vai fazer falta alguma!" É que os Diretores, no intuito de fazê-lo mudar de idéia, alegavam que sem ele, as tarefas assistenciais da Instituição não poderiam seguir adiante. Ao se levantar para ir embora, Chico virou-se para mim e disse, apontando a cadeira em que, habitualmente, se sentava para psicografar (eu estava atordoado! Estava praticamente começando na Doutrina, com pouco mais de vinte anos de idade, ainda): - "Agora, você tome cuidado, porque vão querer colocar você sentado ali..."

ALEX - E quando você começou á frequentar o Grupo Espírita da Prece?

BACCELLI - Assim que Chico para lá se transferiu, em 1975. Durante algum tempo, permaneci frequentando a "CEC" (eu ainda era o Secretário) e o "GEP" (eu já namorava a Márcia); que de imediato, em companhia do pai Dr.José Thomaz, seguiu Chico ao "Grupo Espírita da Prece".

ALEX - E como foi a sua primeira psicografia por lá?

BACCELLI - Eu havia publicado um artigo na "Revista Internacional de Espiritismo - RIE"...onde eu comentava que Chico havia-nos dito, a mim e a outros amigos, que, ao tempo de Kardec, se acreditava na "Sociedade Espírita de Paris", que o Espirito da Verdade fosse João Batista. Acrescentei que, na mesma oportunidade, Chico nos falara sobre uma possível encarnação de Kardec como sendo Platão, que ao lado de Sócrates, havia sido um dos precursores da idéia cristã e do espiritismo. Ah, para quê! Um confrade de Uberaba, extremamente contestador, de imediato, escreveu, nas páginas da mesma revista, um artigo de fúria contra mim, no qual, inclusive, me chamava de jesuíta - foi das menores que disse ao meu respeito. Ao ler aquilo, Chico ficou contrariado e, com o intuiuto de tomar a minha defesa e dar uma resposta ao "fraterno" articulista, que sempre aparecia por lá, me convidou para psicografar á mesa do "Grupo Espirita da Prece". Interessante: a primeira página que psicografei ao lado de Chico foi uma mensagem de Irmão José...

ALEX - Você perguntou a Chico sobre a verdadeira identidade de Irmão José?

BACCELLI - Certa vez perguntei. Ele, então, me respondeu: "Ele me parece uma figura de um profeta, saindo das páginas do Antigo Testamento..." Com o tempo, vim a saber que ele havia sido José de Chipre, que convertido ao Cristianismo, adotou o nome de Barnabé.

ALEX - E quais outros espíritos se comunicaram por seu intermédio nesta época?

BACCELLI - Alexandre de Jesus, Odilon Fernandes, Eurícledes Formiga e outros com menor frequência; o próprio André Luiz, algumas vezes.

André Luiz
ALEX - E André Luiz? Ele foi a reencarnação de Carlos Chagas?

BACCELLI - Sim, a reencarnação do Dr.Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, que segundo o Dr. Inácio Ferreira, ao tempo de Kardec, foi ainda o Dr. Antoine Demeure, um dos espiritos que o orientava, mormente no campo de sua saúde combalida. Interessante é que, nas páginas da "Revista Espirita", do mês de março de 1865, há um comunicado do Dr. Demeure, datado de 25 de janeiro do mesmo ano, no qual ele diz: "Então! Eu tentarei, ó meu mestre: vou fazer o seu estudo e virei depor junto a vós a homenagem de meus trabalhos de espirito, que antecipadamente vos dedico. Até breve!".

ALEX - Ainda falando em reencarnação, quais foram as reencarnações de Emmanuel?

BACCELLI - Segundo publicado no livro "Deus Conosco", editado pela "Vinha de Luz", Emmanuel animou na esteira das vidas sucessivas, as personalidades de Simas (Grão Sacerdote do Egito), do Cônsul Públio Cornelius Lentulus Sura, do Senador Públio Lentulus Cornelius, do escravo Nestório, do filósofo Basílio, do Bispo de Reims (São Remígio), do Padre Manoel da Nóbrega, do Padre Damiano, do educador Jacques Turville e do Padre Amaro (sacerdote que viveu no Brasil no último quartel do século XIX)...

ALEX - E hoje Emmanuel está reencarnado? Desde quando?

BACCELLI -  No ano 2000, Chico o disse a diversas pessoas. Eu mesmo o ouvi, inúmeras vezes, dizer que Emmanuel reencarnaria no final do século. E tem mais: Chico disse que ele reencarnou na familia consanguínea de Ricardo e Laura, pais de Lísias, personagem do livro "Nosso Lar". Emmanuel seria neto deles!

ALEX - E os "Emmanuéis" que andam se comunicando por aí?

BACCELLI - São outros espíritos.

ALEX - E Humberto de Campos? Adoro as obras dele!

BACCELLI - Reencarnou na década de 70. As páginas mediúnicas de Humberto de Campos, através da lavra de Chico, publicadas posteriormente, estavam arquivadas desde muito.

ALEX - Voltando á falar de Emmanuel, você diz que ele reconstituiu a parte histórica e a parte espiritual do Cristianismo, como assim?

BACCELLI - É simples. A reconstituição histórica se deu a partir de "Há 2000 Anos" (1940), "50 Anos Depois" (1940), "Paulo e Estevão" (1942) e "Ave, Cristo!" (1953).
A reconstituição espiritual através de inúmeras obras cujas páginas Emmanuel, praticamente reescreveu os Evangelhos, como por exemplo: "Caminho, Verdade e Vida" (1949), "Pão Nosso" (1950), "Vinha de Luz" (1952) e "Fonte Viva" (1956). Pelas datas de publicação...percebe-se o plano diretor que norteou a abençoada tarefa de Chico Xavier entre os homens.

ALEX - Você acredita que Chico futuramente se comunicará por Emmanuel reencarnado?

BACCELLI - Tomara! Chico brincava que eles iriam trocar de posição e Emmanuel, então, veria o que é ser médium...(risos).

ALEX - Falando em mediunidade, o que Chico quer dizer quando comentava que Emmanuel ensinava "Nada se pode tirar de nada..."

BACCELLI - Quer dizer: os Espíritos Amigos carecem de contar com uma base, o médium necessita sempre estudar! Paralelamente...


Carlos Baccelli e Chico Xavier
 ALEX - E seu primeiro livro mediúnico em parceria com Chico foi á convite do próprio Chico?

BACCELLI - Exatamente, o que me causou grande alegria e espanto. Ele me disse que ali estava a pedido de Emmanuel e que eu deveria separar algumas páginas psicografadas por mim, a fim de serem avaliadas e revistas pelo nosso Benfeitor Espiritual.

ALEX - Eu guardo com grande carinho esta raridade que para mim é muito importante: a primeira edição desta obra em que estamos comentando, intitulada "Fé",  e em perfeito estado (risos). Em que ano se deu isto?  

BACCELLI - Em 1984..Os títulos eram dados por Emmanuel...Interessante é que, antes de meu próximo encontro com Chico, que se daria no dia seguinte, para uma derradeira apreciação da obra, a fim de encaminhá-la á edição, tive um nítido sonho em que ele me dizia com clareza: "Baccelli, amanhã nós iremos conversar sobre a fé..." Imagine a minha surpresa, quando, tomando a pasta nas mãos com o livro pronto para ser entregue á Editora, me deparei com o prefácio de Emmanuel e o título em sua página de rosto: "Fé"!

ALEX - Ao todo sabemos que em parceria com Chico, foram escritos 10 livros, você poderia listá-los?

BACCELLI - "Fé" (1984), "Esperança e Vida" (1985), "Juntos Venceremos" (1985), "Crer e Agir" (1985), "Sementes de Luz" (1986), "Tende Bom Ânimo" (1987), "Palavras da Coragem" (1987), "Brilhe Vossa Luz" (1987), "Páginas de Fé" (1988) e "Confia Sempre" (1989).

ALEX - E os livros biográficos sobre Chico Xavier? Quantos são?

BACCELLI - Presentemente são 15, uma pequena coleção! Devo ressaltar que boa parte do material que constitui tais obras me foi cedido, gradativamente, pelo próprio Chico: fotos, reportagens históricas, entrevistas, mensagens inéditas. Eis por ordem de edição: "Chico Xavier, Mediunidade e Coração" (1985), "Chico Xavier, á sombra do Abacateiro" (1986), "Chico Xavier, Mediunidade e Vida" (1987), "Chico Xavier, Mediunidade e Luz" (1989), "Chico Xavier, Mediunidade e Ação" (1990), "Chico Xavier, Mediunidade e Paz" (1995), "Chico e Emmanuel" (1996), "Chico Xavier, 70 Anos de Mediunidade" (1997), "As Bençãos de Chico Xavier" (1998), "O Evangelho de Chico Xavier" (2000), "Chico Xavier, o Apóstolo da Fé" (2002), "Orações de Chico Xavier" (2003), "Chico Xavier, a Reencarnação de Allan Kardec" (2005), "Chico Xavier, o Amigo dos Animais" (2008), "100 Anos de Chico Xavier - Fenômeno Humano e Mediúnico" (2009) e "O Médium dos Pés Descalços" (2011).

ALEX - O espírito de Chico já escreveu algo por seu intermédio?

BACCELLI - Sim, como acredito que, igualmente, tenha se manifestado por outros médiuns.

ALEX - Por seu intermédio, quais livros ele escreveu até o momento?

BACCELLI - "O Espirito de Chico Xavier" (2004), "Chico Xavier Responde" (2007) e "Doutrina Viva" (2008).

ALEX - E a história da "senha" que ele teria deixado?

BACCELLI - Conhecendo-o como conheci, não acredito! Acredito que, para coibir a ação dos aproveitadores, ele tenha mencionado o assunto com algumas pessoas mais próximas. Em minha opinião, a "senha" não existe, mas a sua história, ao se espalhar, impediu que muitos viessem a "receber" o seu espírito, principalmente aqueles que sempre tiveram anseios de suceder-lhe.

ALEX - Falaremos agora de um espírito que escreve exclusivamente por você, o Dr. Inácio Ferreira. Você o conheceu quando ainda ele estava encarnado?

Carlos Baccelli e Dr. Inácio Ferreira
BACCELLI - Na década de 70, quando intensifiquei minhas tarefas na Doutrina. Diretor do Departamento de Mocidades da Aliança Municipal Espírita de Uberaba, estava sempre a necessitar de seu apoio, que nunca foi negado, para as atividades que programávamos junto á gente jovem...Não nos esqueçamos de que foi o Dr.Inácio o primeiro presidente da União da Mocidade Espírita de Uberaba, fundada por Emmanoel Martins Chaves (Lilito), em 13 de janeiro de 1940, que funcionava no C.E. Uberabense, considerado a primeira casa espírita em nossa cidade.

ALEX - Tive o prazer de conhecer esta casa centenária, e fiquei encantado com ela e com a Mocidade de Uberaba. Agora entendo porque esta parceria sua com o dr. Inácio tem agradado tantos jovens. E você imaginava que um dia ele iria escrever mediunicamente por seu intermédio?

BACCELLI - Isso nunca me passou pela cabeça! Eu estava conversando com Chico sobre mediunidade; estávamos organizando os nossos livros de parceria. Recordo-me de além de Márcia, Sérgio, sobrinho de Chico, filho de Lúcia, estava presente. A certa altura do diálogo, eu disse ao Chico que, na condição de médium, eu gostaria de receber algo mais substancioso, algo que viesse acrescentar á Doutrina, por certo, um romance. Ele parou de escrever, me olhou significativamente por cima dos óculos e disse: "Mais tarde...Quem sabe o próprio Dr. Inácio?!" Ora, eu não estava pensando nele, recém desencarnado, que havia sido meu amigo particular. Eu estava pensando em psicografar de Emmanuel e Dr.Bezerra de Menezes para cima...(risos) O assunto cessou ali e o tempo passou. Confesso que tudo se apagou da minha cabeça. Quando o livro "Sob as Cinzas do Tempo" foi publicado, o Sérgio me telefonou de Pedro Leopoldo: "Dr. Baccelli, o senhor se lembra do que o tio Chico nos disse naquela quarta-feira?..." Foi aí que a "ficha caiu"! Naquele momento, todo o diálogo que, meses e meses atrás, eu mantivera com o Chico, voltou á minha cabeça e, mais uma vez, a extraordinária mediunidade dele se evidenciara. É por isto e muito mais que costumo dizer que ele era médium e profeta! O Dr.Inácio desencarnou em 27 de setembro de 1988 e o livro surgiu no ano 2000, doze anos após a conversa com Chico.

ALEX - Depois deste ele escreveu contigo muitos mais livros, poderia nos relacionar por ordem editorial?

BACCELLI - "Sob as Cinzas do Passado", "Do Outro Lado do Espelho", "Na Próxima Dimensão", "Infinitas Moradas", "A Escada de Jacó", "Fala, Dr. Inácio!", "Por Amor ao Ideal", "Fundação Emmanuel", "No Limiar do Abismo", "Obsessão e Cura", "Cartas do Dr. Inácio aos Espíritas", "Reencarnação no Mundo Espiritual", "Amai-vos e Instrui-vos", "Terra Prometida", "Estudando 'Nosso Lar'", "Saúde Mental á Luz do Evangelho", "Espiritos e Deuses", "A Vida Viaja na Luz" e "Trabalhadores da Última Hora".

ALEX - O Dr. Inácio se considera um continuador de André Luiz?

BACCELLI - Absolutamente! Um aprendiz de André Luiz, isto sim, ele se considera.

ALEX - E por que a obra do Dr. Inácio Ferreira é combatida por alguns?

BACCELLI - Sinceramente, creio que seja por falta de conhecimento mais profundo da Doutrina e por ignorar o próprio caráter dinâmico da Verdade. Mas existem também aqueles que se sentem contrariados em seus interesses imediatistas.

ALEX - Um tema bem polêmico abordado em suas obras, é o da "Reencarnação no Mundo Espiritual". O que você tem a dizer sobre isso?

BACCELLI - Que a discussão é natural. Sempre que os Espiritos Amigos nos trazem uma informação nova para o nosso limitado conhecimento das Leis Universais, como ensinou Kardec, torna-se indispensável sub-metê-la ao crivo da razão. De minha parte, apenas não entendo a negação sistemática dos que, em vez de apresentarem argumentos contrários com base na razão, reagem com agressividade, como se a Verdade lhes pertencesse por inteiro.

ALEX - Foi o Dr.Inácio Ferreira quem, pela primeira vez, abordou o assunto? Em qual obra?

BACCELLI - Sim, foi o ele no livro "Na Próxima Dimensão", de sua lavra espiritual, o primeiro á se referir ao assunto. Posteriormente, ele o ampliaria em "Fundação Emmanuel" e em "Reencarnação no Mundo Espiritual", ambos igualmente de sua autoria.

ALEX - E sobre este assunto de "Reencarnação no Mundo Espiritual", o Chico falou alguma vez sobre isso?

BACCELLI  - Não, mas quando o livro do Dr.Inácio foi publicado, Geraldo Lemos Neto, nosso Geraldinho, telefonou-me de Belo Horizonte para contar que no início da década de 80, Chico havia tocado no assunto com ele...Comentara com ele que a Reencarnação no Mundo Espiritual era uma realidade, mas que os espiritas levariam cerca de 50 anos para aceitá-la...Pelas minhas contas, faltam ainda 25 anos! (risos).

ALEX - Eu que sou "blogueiro", fiquei muito feliz quando soube que você criou um blog para o Dr. Inácio, como surgiu isso?

BACCELLI - Por sua sugestão, criamos um blog, o "Mediunidade na Internet", no qual há pouco mais de cinco meses ele vem interagindo com os internautas, através de páginas mediúnicas publicadas semanalmente. Mais de 25.000 visitas já lhe foram feitas, com a votação se mantendo na média 9,5.

ALEX - Alguém já lhe perguntou: "Mas um blog de um espírito?"

BACCELLI - Isso não tem nada de extraordinário! Qual é a diferença entre você, por exemplo, extrair a mensagem de um livro e postá-la, como existem milhares e milhares na Internet, e uma página mediúnica escrita especificamente com tal finalidade?

ALEX - Você acredita na evolução dos processos mediúnicos na recepção de mensagens do Mais Além?

BACCELLI - É óbvio. Recorremos a "Nosso Lar", quando André Luiz no capítulo 48, "Culto Familiar", nos descreve um fenômeno de transcomunicação instrumental (TCI) ocorrido no Além. A mediunidade, sob o meu ponto de vista, há sim de evoluir, em seus processos de transmissão e recepção, sem contudo, dispensar a participação do medianeiro. A "escrita direta" não evoluiu para o método da "cestinha de vime" e desta para a psicografia?! Por que motivo, através de médiuns habilitados os espiritos não poderiam escrever ao computador? Você já imaginou o que Chico Xavier, do ponto de vista mediúnico, seria capaz de fazer na vigência generalizada do computador atualmente?

ALEX - E ultimamente em seus livros, você tem psicografado ou digitando?

BACCELLI - Ultimamente, tenho psicografado digitando. Á exceção de Formiga, que prefere continuar escrevendo seus poemas a caneta, os demais se "modernizaram"...Aliás, você sabia que Chico trocou o lápis pela caneta esferográfica por conta do Formiga? Quando ia ao "GEP", enquanto Chico ainda psicografava a lápis, o Formiga psicografava á caneta...Era muito mais prático, porque os lápis viviam quebrando as pontas. Então, Chico resolveu aderir.

ALEX - Você não teve dificuldade para psicografar digitando?

BACCELLI - No começo, um pouco: achei que nunca iria conseguir. Mas, um dia, Irmão José apareceu dizendo que ia me treinar, escrevendo um livro de textos curtos. Foi assim que nasceu "Senhor e Mestre"

ALEX - E agora falando de outro espirito que escreve muito bem por seu intermédio: o Dr. Odilon Fernandes...O que você poderia dizer sobre seus estudos sobre a Mediunidade?

BACCELLI - Eu sou suspeito em falar. Todavia, deixando a modéstia de lado, considero as obras da lavra do Dr. Odilon Fernandes extremamente úteis para melhor compreensão da prática mediúnica. Depois das obras de Emmanuel e de André Luiz, no estudo da mediunidade, as obras do Dr. Odilon são as de que eu tomo a liberdade de sugerir a leitura. Assim procedo de consciência tranquila e sem o menor escrúpulo!

ALEX - E você costuma ler livros recebidos por outros médiuns?

BACCELLI - Leio! Recebidos por outros médiuns e de autores encarnados também. Muitos livros de autores encarnados são bem melhores que muitos de natureza mediúnica.

ALEX - Cite alguns que são de vosso agrado...

BACCELLI - Dentre outros...Hermínio C. Miranda, José Carlos De Lucca e Wilson Frungilo Jr.


Baccelli psicografando
 ALEX - Além de você psicografar livros, você também realiza o trabalho das Cartas Consoladoras aos familiares de entes queridos desencarnados que lhe procuram em busca de consolo. Com quanto tempo de mediunidade você começou a psicografar as "cartas consoladoras"?

BACCELLI - Com quase vinte anos de exercício...

ALEX - Quando acontecem as reuniões de psicografia?

BACCELLI - Aos sábados e domingos pela manhã, a partir das 5 horas! Caravanas de todo o Brasil costumam nos visitar, incluindo-nos em seu roteiro de visitação a outros pontos de "turismo espiritual" de Uberaba e região - vão ao Hospital do Pênfigo, ao Sanatório Espírita, ao Grupo Espírita da Prece...

ALEX - Elas ocorrem no Lar Espirita "Pedro e Paulo", como nasceu esta casa espirita?

Alex no "Pedro e Paulo"
BACCELLI - Desde jovem tínhamos o pensamento de construir um lar para idosos desamparados. Um dia, conversando com o Dr. Durval de Miranda Cardoso, já desencarnado, ele nos ofereceu a doação de quatro lotes de terreno no Bairro de Lourdes, na periferia de Uberaba. Demoramos exatos três anos para levantar a obra, que aos poucos foi se ampliando até chegar ao que é hoje. Interessante é que os lotes adquiridos haviam pertencido a determinada organização religiosa católica, destinados á mesma finalidade, ou seja, á construção de um abrigo para idosos de ambos os sexos.

ALEX - Além dos velhinhos residentes, este Lar possui outros assistidos?

BACCELLI - Além dos 30 irmãos idosos que residem conosco, o Lar presta assistência semanal a cerca de 150 familias, com distribuição de sopa, cestas básicas, roupas, cobertores e enxovais para recém-nascidos, sendo que no Natal, o número de familias assistidas ultrapassa 3.000!

Baccelli no "Pedro e Paulo"
ALEX - Voltando á falar de "cartas consoladoras"...O que você sente, quando psicografa uma mensagem endereçada a algum familiar presente na reunião?

BACCELLI - Uma dupla sensação de alegria e frustração. De alegria, pelo dever cumprido e por ter servido de "instrumento" de consolo para alguém. De frustração, porque, na condição de médium, estou consciente de minhas limitações e percebo que a falta de entrosagem, entre médium e o espírito, no caso entre mim e o espírito, impede que a comunicação seja mais autêntica.

ALEX - Numa segunda comunicação, por exemplo, o espírito encontra mais facilidade de sintonia?

BACCELLI - O espírito e o médium!

ALEX - Houve alguma mensagem recebida por você que os familiares não aceitassem por autêntica?

BACCELLI - Imagino que várias, todavia não chegou ao meu conhecimento nenhuma delas. Certa vez, quando fiquei preocupado com o assunto, Irmão José me disse: "Meu filho, se você está excessivamente preocupado com a opinião das pessoas, sobre a menor autenticidade das mensagens recebidas por seu intermédio, é simples: arranje uma lata de lixo qualquer, coloque-a na porta de saída e escreva: Lixo - se você não gostou, jogue a sua mensagem aqui! E arrematou: Pronto! O assunto está encerrado".

ALEX - Nas "Cartas Consoladoras" os espíritos são auxiliados?

BACCELLI - Na maioria das vezes...Existem espíritos que são médiuns de espíritos! Em muitos dos comunicados que recebo, noto claramente que os comunicantes estão sendo auxiliados por outros, mais aptos á tarefa do intercâmbio mediúnico.

ALEX - E em suas palestras, quais os espíritos que mais o assessoram? 

BACCELLI - Irmão José, Odilon Fernandes, Inácio Ferreira, Sebastião Carmelita...

ALEX - Sebastião Carmelita? Quem é ele?

BACCELLI - Um sacerdote, em Uberaba, amigo do Dr.Inácio, de Chico Xavier e meu também. Sebastião Carmelita, que segundo Chico era a reencarnação do Bispo de Barcelona, Dom Antonio Palaú y Termens, autor do célebre Auto-de-Fé contra obras espíritas, ocorrido á 9 de outubro de 1861, quando em praça pública, cerca de 300 volumes foram incendiados.

ALEX - Ele era um padre espírita?

BACCELLI - Sim, um padre médium, dotado de faculdades mediúnicas extraordinárias. Foi um verdadeiro apóstolo da Caridade. Vivia percorrendo os hospitaise transmitindo passes nos doentes. Quando ele desencarnou, Chico fez questão de ir ao seu velório - aproximou-se do ataúde e depositou-lhe um ósculo na fronte inerte. Muitas vezes, ele quis deixar a batina, mas por orientação de Chico e do próprio Dr.Inácio, não o fez, cumprindo exemplarmente com seus deveres de sacerdote até o fim. Encontrei-o numa ocasião na praça central de Uberaba. Interessante: ele me abordou e me perguntou se eu não queria ser o representante de "Reformador" (revista da Federação Espírita Brasileiras) em Uberaba, porque na condição de assinante, estava recebendo os números com prejudicial atraso...

ALEX - E falando de Chico, após a psicografia, sobre o que Chico conversava?

BACCELLI - Sobre todos os assuntos - eram verdadeiras tertúlias espirituais! Em alguns centros espíritas, o silêncio chega a ser pesado, o ambiente escuro e lúgubre. Espiritismo não é isso. É claro que carecemos estar vigilantes para não extrapolarmos. Chico sabia como nos conduzir e, ás vezes, se determinado assunto descambava, logo tratava de colocar nele o ponto final dizendo: É!...Vamos orar..."

ALEX - E nos passes, como ele os transmitia?

BACCELLI - Sem formalidade alguma. E era aquela beleza! O perfume dos Espiritos exalava no ambiente! Não havia técnica padronizada. Ele impunha as mãos sobre a cabeça da pessoa, tendo cuidado de não tocá-la, fazia leves movimentos com as mãos ao longo do corpo do paciente e orava em silêncio! Nada mais simples e eficiente.

ALEX - E na Casa Espírita ele era de ir na reunião de diretoria?

BACCELLI - Não. Costumava brincar que, para tudo correr bem, a diretoria de um centro espírita deveria se constituir de Presidente, Secretária e Tesoureiro, sendo que no dia da reunião, um dos três deveria estar viajando, o outro impossibilitado de comparecer, cabendo a decisão ao diretor que sobrasse (risos). Assim, não haveria brigas...

ALEX - E que orientações ele dava aos médiuns principiantes? Ele os incentivava?

BACCELLI - Sem dúvida que incentivava. Ele os orientava a estudar e a perseverar na tarefa. Mas, numa ocasião, após alguém ter perguntado a ele o que deveria fazer para desenvolver a mediunidade, quando o interlocutor se retirou, comentou conosco, baixinho: "Engraçado, quase todo mundo me pergunta o que deve fazer para desenvolver a mediunidade, mas quase ninguém pergunta oque deve fazer para desenvolver a bondade"!

ALEX - E o que fazer para desenvolver a bondade...O que você aconselha a quem deseje se iniciar na prática do Bem?

BACCELLI - Não faça grandes obras, nem espere se sentir, espiritualmente apto para começar. Uma visita ao doente, uma cesta básica, o remédio ao doente, a peça de agasalho, o livro para criança na escola...E também: a paciência dentro de casa, o silêncio que põe fim a discussão, o esquecimento da ofensa...A Caridade é a mais eficaz escola de iniciação espiritual!

ALEX - Você se considera uma pessoa caridosa?

BACCELLI - Infelizmente, não. E isto tem sido uma prova para mim. A prática da Mediunidade me colocou muito em contato com o campo teórico da Doutrina.

ALEX - Mas você recebe muitas cartas consoladoras para pais cujos filhos desencarnaram...

BACCELLI - Mas, acredite, isto não é suficiente - a consciência nos pede mais. As mensagens são dos espíritos que as escrevem por meu intermédio. Eu não sou mais que um "recipiente"...Sinto falta de eu mesmo, por exemplo, continuar fazendo o que fazia antes: colocar um saco de alimento ás costas e subir á periferia! Por este motivo, creio que os espíritos verdadeiramente iluminados escreveram tão pouco! Quem vem para fazer está muito á frente de quem vem para falar!

ALEX - Voltando á falar das diretorias de centros espíritas, no centro do Chico, a diretoria se reunia de quanto em quanto tempo?

BACCELLI - Eu nunca soube de uma reunião de diretoria no Grupo Espírita da Prece, os problemas eram resolvidos no dia-a-dia! O centro espirita não tem tantos problemas assim, os diretores é que costumam tê-los! O Dr. Inácio Ferreira, por exemplo, tinha pavor, no Sanatóri, de reunião de diretoria. Ele chegava a ter urticária!

Alex no "Bittencourt Sampaio"
ALEX - E no "Pedro e Paulo" quantas vezes os diretores se reunem?

BACCELLI - Graças á Deus, nenhuma! Só quando é época  de eleição! A gente resolve tudo com informalidade e, o mais importante, com fraternidade. O centro espirita que para mudar uma vassoura de lugar tem que se reunir, está perdido!

ALEX - O que você acha mais dificil na Doutrina?

BACCELLI - Vivênciá-la! A minha luta cotidiana é por harmonizar o discurso com a prática. Creio, infelizmente, que muitos espíritas não atentam para a necessidade de renovação íntima - como alguns adeptos de outras crenças religiosas, continuam a crer que "se justificarão apenas pela fé que professam".

ALEX - E você Baccelli, se considera tranquilo ou ancioso?

BACCELLI - Em nível de consciência, tranquilo, mas ancioso pelo cumprimento do dever. Gostaria de ter a serenidade de Chico Xavier, que não usava relógio, mas tudo conseguia atender a tempo e a hora.

ALEX - Falando de Chico novamente, alguma vez ele admitiu ser a reencarnação de Allan Kardec?

BACCELLI - Com poucos amigos, por exemplo com João de Aquino Ottaiano, mais conhecido por "João da Óptica", morador em São Paulo, que estava sempre em sua casa. João era quem fazia os óculos do Chico, em sua loja. Certa vez, quando Chico falava sobre o túmulo de Kardec, no Pére Lachaise, explicando que o busto de bronze do Codificador se encontra desgastado no ombro esquerdo, ao lado do coração, de tanto as pessoas pousarem a mão e rogarem a sua intercessão espiritual, através das preces ali formuladas, João lhe perguntou sem rodeios: "Chico, você é Kardec?" Fitando o amigo de maneira reticente, como se respondesse de maneira afirmativa, ouviu dele a segunda pergunta: "Se você é a reencarnação de Allan Kardec, por que você não fala?" Quebrando o silêncio, ele respondeu "É porque eu vim levar as pessoas para a frente e não para trás!..."

ALEX - A mais alguém ele disse que era Kardec?

BACCELLI - A Euripedes, seu flho, e permitiu que Adelino da Silveira, de Mirassol, publicasse a obra "Kardec Prossegue", na qual Adelino claramente, defende a tese. Ele autografou o livro e enviou a diversos amigos, inclusive a mim e á Marcia. Se não concordasse, não teria avaliado a obra.

ALEX - E você, quem foi em sua última encarnação?

BACCELLI - Adormeci tão profundamente, que esqueci! (risos) Desconfio que eu tenha sido espírita, mas é só!

ALEX - Você tem medo da morte?

BACCELLI - Não! A morte, como dizia Sócrates, deve ser como uma dessas noites sem sonhos...Cremos que todos nós não queremos permanecer inativos em cima de uma cama! Para mim, o processo de morrer é sim, objeto de preocupação.

ALEX - E pretende reencarnar logo?

BACCELLI - Pretendo não perder tempo e, se o caminho para isso for reencarnar logo, qual é o problema? Estar no corpo ou fora do corpo carnal não faz grande diferença. Tenho aprendido com os nossos Benfeitores Espirituais que na maioria das vezes, desencarnar é apenas mudar de um cômodo para outro, dentro da própria casa.

ALEX - Enquanto Chico estava encarnado, ele usava peruca...era por vaidade?

BACCELLI - Eu costumo dizer que para falar de Chico a gente precisa enxaguar a boca com água sanitária! Você sabe como muitas vezes eu ia encontrar Chico Xavier em sua casa? Com terno surrado, o paletó sujo com o resto de alimento (que caíam antes que ele conseguisse levá-lo á boca) pisando nas barras da calça, todas puídas, com os sapatos dobrados nos calcanhares, porque os seus pés inchados não cabiam neles...Vaidade em Chico Xavier por conta de uma peruca? A peruca é uma prótese como um par de dentaduras! Então, quem usa dentaduras é vaidoso, concorda? Quem usa óculos, quem usa aparelhos contra surdez...quando Chico não usava peruca algumas mulheres faziam questão de lhe beijar a calva, que deixavam toda manchada de batom! Tinha cabimento uma coisa dessa?...

ALEX - Para encerrar, as duas últimas perguntas que muitos querem fazer sobre o Chico Xavier: O que ele falava sobre Pietro Ubaldi?

BACCELLI - Admirava a obra do grande místico italiano, mas achava que a missão dele era na Itália e não no Brasil. Dizia que ele não deveria ter vindo morar no Brasil, porque "não se transplanta uma árvore grande já enraizada de lugar"...São palavras textuais dele, que eu próprio o ouvi falar. Referia-se á uma mensagem de Francisco de Assis, que recebeu para o Ubaldi, em Pedro Leopoldo, na qual, nas entrelinhas Francisco sugere que ele volte para a Itália. Contou-me que Pietro Ubaldi o convidara a deixar o Espiritismo para que os dois fundassem uma Doutrina juntos. Ele agradeceu, mas disse que tinha um compromisso com a mediunidade no Espiritismo.

ALEX - E sobre Ramatís, o que Chico dizia?

BACCELLI - Tinha respeito pelo espirito Ramatis e pelo seu médium Hercilio Maës. Discordava de algumas opiniões de Ramatis, que interpretava com uma opinião particular dele - mas não criticava ou fazia campanhas contra, absolutamente! disse-me que Ramatis no começo de sua mediunidade quis escrever por seu intermédio, mas que ele se recusou a se enquadrar na disciplina de Emmanuel. O mesmo aconteceu com o poeta português Abilio Guerra Junqueiro e seus poemas ácidos contra a Igreja Católica, que após as páginas iniciais que escreveu para o "Parnaso de Além Túmulo", a não ser em poucos outros poemas, quatro deles inseridos em "Lira Imortal", não mais voltou a escrever por Chico.

ALEX - Interessante essa divergência de opinião entre espiritos...

BACCELLI - Os espiritos mais não são que homens fora do corpo.      

NOTA : Como já informamos no início da entrevista, as respostas foram retiradas da obra "A Trajetória de um Médium" e que foi autorizado pelo próprio Carlos A. Baccelli, inclusive ele mesmo nos doou o livro para copiarmos as suas páginas. Abaixo está uma propaganda da obra citada para quem quiser apreciá-la na íntegra:

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o seu blog, Alex! Parabéns pela iniciativa. Você está fazendo um excelente trabalho de divulgação da Doutrina! Deus o abençoe, meu irmão!
Ari Rangel
Tremembé-SP

Alex S. C. Guimarães disse...

Obrigado Ari! Eu não tive a mesma oportunidade que você teve certa feita, de fazer uma entrevista exclusiva com o Baccelli. Mas ficou bem legal! Obrigado por ter apreciado o Blog, um dia o teremos também entre nossos entrevistados, para que você divulgue seu maravilhoso trabalho. Um abraço fraterno...Alex Guimarães.
S.J.Campos-SP

Unknown disse...

Alex, mais um excelente trabalho que você doa a todos os estudiosos da história do Espiritismo e de seus principais expoentes no Brasil. Você é merecedor das mais honrosas felicitações. Continue assim, que seu trabalho iluminará muitas consciências ainda obscurecidas. Muito obrigado!!! Maurício Tomé

Alex S. C. Guimarães disse...

Querido amigo Mauricio,
Obrigado por mais uma vez comentar positivamente com respeito ao nosso blog. Fico muito feliz com suas palavras de incentivo, pois nós temos os mesmos ideais dentro da Doutrina e juntos poderemos, como você mesmo escreveu, iluminar muitas consciências ainda obscurecidas. Continuemos estudando e pesquisando, e sempre aprendendo como estes professores maravilhosos, o próximo será o Geraldinho, o grande amigo do Chico e do próprio Baccelli: Geraldo Lemos Neto, um abração Mauricio!

Paulo Rogério Lopes disse...

Parabéns Alex pelo Blog, principalmente pela entrevista com o nosso Carlos Baccelli, ao qual tive o privilégio de conhecer...o Baccelli que sempre contribui de forma excepcional para a nossa doutrina espírita.Aproveito para deixar o link de meu blog, pois também sou blogueiro...na verdade são notícias do lado de lá que são enviadas pelo meu filho Artur, desencarnado a um ano e meio...Espero com isso também estar contribuindo, afirmando que a continuidade da vida existe de forma tão magnífica...o endereço é http://seresespirituais.blogspot.com.br Forte abraço e até breve..!

Paulo Rogério Lopes -Santo André - São Paulo