30 de setembro de 2010

10 - Homenagem ao Pe.WÁGNER

     Há cinco dias eu pensava muito em uma pessoa...desde o amanhecer até o anoitecer...até mesmo enquanto trabalhava...não entendia o porque daquilo.


     Hoje fui revirar uma gaveta onde guardo muitas recordações do meu tempo de católico, afim de encontrar algo relacionado á esta pessoa, pois eu tinha certeza que lá havia algo. E encontrei, justamente um 'santinho' dela onde estava escrito: Pe.Wagner Rodolfo da Silva (Falecimento - 25 de setembro de 2003)

     A data era a mesma do dia em que fiquei a pensar nele o dia todo, mas com 7 anos de diferença...Coincidência? Para nós espiritas não existe isso!


     Nós tivemos uma afinidade muito grande enquanto atuamos juntos na Paróquia Espirito Santo, em S.José dos Campos-SP. É com carinho que lembro de várias passagens deste servo de Deus, que se aqui fossem todas relatadas, daria um livro.

     Recordamos de quando ele chegou, ainda seminarista, com aquele sotaque caipira e simples, um sorriso infantil e disposto á trabalhar. Ordenou-se diácono e com muita paciência aguardava sua ordenação sacerdotal.

     Naquela época, eu ajudava na coordenação do grupo de coroinhas e acólitos, este último grupo éramos em apenas 12 e ele sempre brincava conosco "Vejam, os doze apóstolos".

     Participando de uma das nossas reuniões, foi logo com humildade dizendo-me "Precisamos melhorar em algo neste grupo". Na mesma semana, ele foi até uma locadora e alugou o filme "Romero", que contava a história do arcebispo Dom Oscar Romero, assassinado durante a Guerra Civil em El Salvador, no início dos anos 80.

     Chegou até nós e falou "Juntem-se todos e assistam esse belíssimo filme, tenho certeza que ao término dele, irão sentir-se renovados á servir á Deus com muito mais amor e fé". No mesmo instante fomos até a sala de vídeo e o assistimos. Aquilo realmente nos impulsionou, mas não sabíamos que aquele mesmo sacerdote de andar calmo, com a sacolinha de locadora na mão, indo em direção á ela para devolver o filme, teria o mesmo fim do mártir Dom Oscar Romero; 20 anos depois e na "guerra civil" brasileira.

     Ele sempre falava em suas homilias com muito ânimo, principalmente quando mencionava Nossa Senhora, dando seus fervorosos "Viva Nossa Senhoraaaaaaa" e quando começava um cântico, onde as palmas ressoavam animadas, ele mais animado ainda dizia com toda força no microfone "VÂMO FERVÊ" e criou este bordão onde ficou conhecido por todos os lugares onde passava.

    Lembramos também do ano de 1997 em que formamos uma banda de música, éramos em grande número de músicos : Ricardinho (bateria), Ricardo (guitarra), Edmílson (guitarra), Michel (baixo), Patricia, Fernanda, Renata, Márcia, Rafael e eu nos vocais. Além de mais outras pessoas que nos ajudavam na externa, como o Édson, a Silvana e outros. Certa vez, fomos cantar para alguns jovens por nós desconhecidos na Casa de Retiros Cura D'Ars (que saudade daquele lugar, era um repositório de energias) e mesmo estando muito felizes por estarmos tocando fora da igreja pela primeira vez, também estávamos nos sentindo muito tristes por não conhecermos ninguém lá, mas eis que para nossa surpresa, chega o diácono Wagner, sorridente como sempre e brincalhão "Até aqui vejo ocês sô, ô povo danado" e ele ficou ali naquela noite após sua palestra até tarde para nos ver tocar. Nos apadrinhou, nos deu sua benção e nos disse várias coisas boas, que apesar de nossa banda não ter ido para frente, pelo menos cada um seguiu seu rumo de uma forma bem abençoada : Ricardinho tornara-se um dos sonoplastas da comunidade; Ricardo entraria para a banda dos sonhos de qualquer músico daquela geração, a Banda Vida Reluz; Edmilson gravaria um cd com João Pessoa; Renata tornou-se a salmista principal das missas naquela época; Rafael ordenou-se padre há menos de um ano; e por aí vai...seriam as mãos de pe.Wágner? Hoje eu diria que também depende do merecimento do abençoado, mas que este padre tinha algo abençoado ainda em vida ele tinha. Ele arrebatava multidões, lembro-me de quando ele foi transferido para a comunidade do Bosque e do Pq.Interlagos, como aquele povo o amava, ou melhor, o ama.


     Em 20 de maio de 1998, as Irmãs Pequenas Missionárias e as Irmãs Carmelitas, vieram em nossa paróquia para festejarmos o aniversário da Pastoral Vocacional e aproveitando as datas do aniversário natalício do pe.Wágner e do diácono Rubens Dantas, resolvemos fazer uma surpresa para ambos...fizemos um bolo e cantamos parabéns á eles, até hoje lembramos daquele dia com muito carinho, pois o pe.Wágner não conseguia conter sua timidez em homenagens...nestas manifestações via-se a sua humildade e simplicidade.
 
     No informativo da paróquia eu fazía alguns desenhos no "Espaço Criança" e ele escrevia alguns artigos. No dia dos pais de 1998 ele haveria de escrever sobre a data comemorativa e pediu que eu desenhasse algo relacionado. No dia seguinte cheguei com dezenas de desenhos diferentes, um havia dois filhos com seu pai, no outro um pai com um casal de filhos, em outro um filho sentado no colo do pai e assim por diante, estavam todos empilhados e quando fui mostrar pra ele, nem deixou eu mostrar o segundo, pegando o primeiro de todos, que eu julguei ser um dos piores, foi logo elogiando meu trabalho e afirmou "Era assim que eu queria", ele nem imaginara como aquilo deixou-me feliz. Ele sabia fazer o jovem sentir-se importante.


     Hoje quero homenageá-lo...graças á Deus conseguimos homenageá-lo ainda em vida; por diversas vezes nosso grupo de teatro e coreografia fez justas homenagens á sua pessoa e ao seu sacerdócio. Mas hoje como espirita quero pedir a permissão de todos os irmãos católicos que estão lendo esta postagem, para dirigir-me á este "santo padre" como alguns já dizem, até mesmo em seu túmulo são colocados pedidos de graças e muitos afirmam ter alcançado êxito, pois acreditamos na atuação dos espiritos e também na fé dos homens aqui na Terra. Acreditamos que este sacerdote, devoto de Nossa Senhora até mesmo no último segundo de sua existência aqui na Terra, rezando a Ave-Maria em seus últimos suspiros enquanto o pobre irmão tirava-lhe a vida no meio de um matagal, sendo martirizado como dizem os católicos e que para nós espiritas ali ele cumpria sua missão no plano terrestre. Mesmo sendo um ser humano com falhas e defeitos como todos nós somos, ele cumprira com fidelidade o que lhe foi confiado enquanto aqui esteve...Seria pagameto de dívidas de vidas pretéritas como acreditamos? ou estaria entrando no hall dos mártires como acreditam os católicos? Não importa o credo neste momento...e sim que hoje ele está em um local merecido por aqueles que tentam espelhar Cristo aqui na Terra. Todos podem ter uma certeza : ele está em uma esfera espiritual muito superior!

     Foi padre aos quase 30 anos; por 5 anos e 7 meses celebrou missas, exercendo seus ministérios com dignidade e fé. Tendo sido iterrompido seu trabalho pelo martírio. Agora continua sua missão em outro plano, talvez até ao lado de pe.Rodolfo Komorek, na qual éramos tão devotos.


     Com muito respeito pelos nossos irmãos católicos e principalmente pelo querido pe.Wágner, embora hoje eu seja espirita, escrevo tudo isto porque quero homenagear alguém que não me ensinou apenas á ser um católico ou um seminarista, mas sim á ser cristão, na autenticidade. Ele ensinou-me que o padre não é um santo, mas também não é o demônio, ele é uma pessoa comum, igual á todos, mas com uma missão á cumprir, digna de respeito e fidelidade.

     Obrigado por tudo pe.Wágner! Hoje na fé que professo levo muito do que me ensinastes, sempre quando estou sentindo-me vibrar um pouco abaixo do que devo vibrar, logo lembro de sua voz "VÂMO FERVÊ" e nosso nível vibratório sobe novamente, levando-nos até Deus.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito linda homenagem ao saudoso Pe. Wagner que tanto amamos!
Parabéns Alex! Deus o abençoe!

Waldiney Ferraz Dutra.