16 de junho de 2012

100 - ALEX entrevista RAUL de MELLO

Está ocorrendo o 9º Encontro de Espiritismo em Jacareí-SP e há pouco tivemos uma palestra com o nosso entrevistado. Se você não compareceu ao evento ontem ou hoje, ainda dá tempo, amanhã (domingo) será o último dia, veja a programação ao final desta entrevista.

O nosso entrevistado é natural de São Paulo-SP.
No momento ele reside em Araraquara-SP.
Ele é Promotor de Justiça e espírita desde os 25 anos de idade.
Formado em Filosofia e autor de vários livros.
Ele é Mestre e Pós-Graduado em Direito.
É professor de Direito Constitucional no Centro Universitário de Araraquara
Ele realiza palestras espíritas e é integrante da AJE - Associação Jurídico Espírita.
Seu nome é RAUL de MELLO FRANCO JÚNIOR.

Raul de Mello
ALEX - Olá Raul tudo bem? Quando vi seu nome pela 1ª vez, o liguei ao “Raul” Teixeira, Oceano Vieira “de Melo” e Divaldo “Franco” (risos). Desculpe a brincadeira, mas começamos assim, falando desses 3 grandes divulgadores da nossa doutrina, cada um á seu modo, mas sabemos que você também pode estar no hall deles. Como é pra você poder divulgar a nossa amada doutrina pelo país todo?


RAUL - É uma oportunidade abençoada de trabalho em prol do ideal espírita. Faz-nos refletir sobre temas variados que, em geral, reportam-se primeiramente ao próprio orador. Neste sentido, o trabalho de divulgação é também um exame de consciência, um ato de interiorização, uma reflexão que brota das angústias, dos anseios e da vida do próprio divulgador. Num segundo momento, é um ato de partilha, de tentativa de esclarecimento, de auxílio humilde na tarefa de Jesus em distribuir os pães que, por sua bondade, são multiplicados pelo plano espiritual. Exige do seareiro uma dedicação adicional, sobretudo para aqueles que ainda mantém os seus compromissos profissionais, familiares, sociais...Sempre muito bem paga pelo sorriso e pelo carinho dos que se dispõem a meditar juntos.

ALEX - E como você á conheceu? A Doutrina Espírita Cristã.


RAUL - Não nasci, infelizmente, em berço espírita. Conheci o cristianismo pela orientação católica. Passei quase uma década da minha juventude num seminário de formação sacerdotal, onde me aprofundei no estudo dos textos bíblicos e da Filosofia. Nesse período, conhecia pouco a doutrina espírita. Tive contato mais aprofundado com ela quando deixei o colégio. Foi pelas mãos de um amigo que recebi um exemplar de "O Livro dos Espíritos", cuja leitura me descortinou essa doutrina maravilhosa. Eu tinha, então, 25 anos.

ALEX - Que interessante! Eu também tive contato com seminários (risos) E quando surgiu em você a vontade de ser um promotor de justiça?


RAUL - No curso de Direito o aluno sai com uma ideia ainda imperfeita do que seja o Ministério Público. Mas tive o privilégio de trabalhar em um cartório no mesmo período em que cursava a faculdade. Não foi difícil perceber que a instituição lutava pelos mesmos ideais que eu sempre defendera. O MP, sobretudo a partir da Constituição de 1988, ganhou atribuições que o colocam como instituição vinculada à defesa da sociedade, das pessoas mais fracas (os chamados “hipossuficientes”), dos desvalidos, ao mesmo tempo em que luta por valores como a democracia, o Estado de Direito, os interesses sociais, o meio ambiente, a honestidade no uso do dinheiro público, a correta aplicação das leis penais e da execução das penas, a proteção da infância e a juventude etc. A mim parecia incrível: uma instituição, respeitada e secular, vocacionada a produzir, em nome do Estado, tudo aquilo que estava eu disposto a fazer por idealismo. Dediquei-me ao máximo para fazer parte de suas fileiras. Deus coroou o meu esforço. Consegui aprovação logo no primeiro concurso que prestei, três meses antes da promulgação da Constituição de 1988. Eu tinha, então, 26 anos.

Alex Guimarães e Raul de Mello Franco Junior
ALEX - É possível exercer autoridade com humildade?


RAUL - Toda autoridade vem de Deus e deve ser exercida com o propósito de servir. O espírita que ocupa um cargo público de destaque tem consciência de que “está autoridade”. Não foi colocado ali por acaso. Cumpre-lhe tomar consciência da sua missão de promover a paz e a justiça a partir de sua caneta e, sobretudo, de seu exemplo. Sabe que a sua condição de mando e de comando é efêmera e que prestará contas do que fez, do que deixou de fazer e do mal que evoluiu em face de sua omissão. Por mais grave que seja a sua missão, deve a todos tratar com respeito, vendo nas pessoas que o procuraram ou que lhe são encaminhadas irmãos que erraram ou que precisam de auxílio. E tudo isso pode ser feito sem prejuízo da aplicação da lei dos homens e sem perder a força de sua autoridade.

ALEX - Vi um texto de vossa autoria cujo título é “Internação compulsória para tratamento de alcoólatras e dependentes químicos”, você poderia nos comentar algo a respeito? Parabéns pelo texto!


RAUL - Trata-se de questão que, com certa frequência, bate às nossas mesas de trabalho. Os usuários de álcool e entorpecentes são grandes vítimas da indústria lícita ou ilícita das drogas. Acabam arrastando para o sofrimento também a família. Em casos extremos, devem ser internados em estabelecimentos especialmente preparados para ajudá-los. Mas nós, espíritas, sabemos que o tratamento não pode ser apenas do corpo. Não há dependente químico que alcance a cura sem se preocupar com os desdobramentos espirituais desse mal.

Raul na palestra (a entrevista foi realizada antes da oratória no 9º Encontro)
ALEX - Ética Espírita e Política – eis o tema de sua palestra aqui em Jacareí, poderia nos adiantar algo, por favor?


RAUL - Pretendo analisar o significado mais próprio do que seja “política” e da vinculação de todos nós, em especial dos espíritas, nas questões sociais. Estamos mergulhados na política e ninguém pode ser dizer alheio a ela. Não se trata de investir na política partidária (não há um “partido espírita”), mas de exigir dos homens públicos comportamentos (e aqui entra a Ética) que se coadunem com os esforços de todos em prol de políticas públicas de atendimento aos mais necessitados, de promoção de justiça social, de igualdade e de solidariedade. Nesse campo, é preciso refletir qual é o papel do espírita e como ele pode contribuir para mudar uma cultura generalizada do uso dos cargos político-eletivos muito mais em proveito pessoal do que geral. Será que os defeitos estão apenas em parte dos integrantes da classe política? Como a questão pode ser analisada à luz da doutrina espírita? Que comportamentos podem ser deduzidos da ética espírita e como ela pode contribuir para a renovação dos homens públicos?

ALEX - Para finalizar, uma curiosidade pessoal, você sabe quantos promotores espíritas existam atualmente em nosso país?

Raul em entrevista com Carlos Monteoliva (organizador do 9º Encontro)

RAUL - O Ministério da Justiça fez um levantamento em 2006, juntamente com o CNPG (Conselho Nacional dos Procuradores Gerais) e a CONAMP (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público). O estudo foi denominado “Diagnóstico – Ministério Público dos Estados”. Trata-se de uma amostragem colhida da parcela mais numerosa do Ministério Público (o MP dos Estados). Num universo de aproximadamente 12.000 promotores, cerca de 13,7% professam o espiritismo. Nesse grupo, é a segunda religião em termos percentuais. A primeira é a católica, com 67,4%. A região com o maior número de promotores espíritas é a Centro Oeste, com 20,8%. A região sudeste acompanha a média (é de 13,8%). Mas esse não é um dado seguro, seja porque não considerada as carreiras do MP da União, seja porque os dados são de 2006.

ALEX - Dr.Raul, quero agradecer-lhe pela entrevista, atenção e respeito com que nos tratou nesta nossa conversa. Que Jesus continue a lhe abençoar nesta missão extraordinária que exerce.

RAUL - Eu é que agradeço a oportunidade de compartilhar com os amigos as minhas inquietações em torno dessas questões tão relevantes para o movimento espírita e para a sociedade de forma geral. Que Deus e a espiritualidade amiga iluminem os propósitos desse nosso trabalho. E parabéns aos organizadores do 9º Encontro de Espiritismo em Jacareí, pelo excelente trabalho.



Um comentário:

Não há culpados, mas responsáveis. disse...

Só digo uma coisa, um evento tão lindo, com a presença de expositores excelentes, prestígio da audiência de católicos, evangélicos, políticos, ateus e uma representação espírita MEDÍOCRE, é uma pena, pois estava muito bom, obrigada Carlos Monteoliva e a todos os que não desistem, especialmente aos convidados que deram um show!